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SEM TER MEDO DA SAUDADE – leia o novo texto de Demétrius Faustino resgatando parte da história de Belchior

Demétrius Faustino

 

Em abril de 2017, morreu aos setenta anos o ilustre cearense da cidade de Sobral, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, e como forma de homenageá-lo, a Polysom resolveu relançar parte de sua obra em disco de vinil. Isto mesmo, em disco fonográfico de 33 1/3 rotações por minuto. Bela homenagem.

Pelas informações colhidas, será um Long Playing com onze canções autorais, datadas de 1974. Ou seja, trata-se do relançamento do seu primeiro disco, onde entre as faixas estão “A Palo Seco”, “Passeio” e “Na Hora do Almoço”, esta vencedora do IV Festival Universitário de MPB.

Dessa forma, o resgate em forma de disco de vinil é significativo e vem a calhar, afinal estamos falando de um dos mais ilustres compositores da música popular brasileira, onde a sua poesia melancólica e ácida o tornou um dos principais nomes dessa nossa música. Muito mais que um emérito cantador de feira e poeta repentista no início da carreira; muito mais que “apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco”, influenciou toda uma geração, com seu discurso filosófico repleto de intertextos e de caráter mobilizador.

Ouvi Belchior pela primeira vez através de Irapuan Sobral Filho, na casa de seu irmão Oscar em Jatobá, lá pelo final dos anos 70, cujo título do disco alí tocado é “Alucinação”, lançado em 1976, e cujo trabalho do compositor alcançava seu máximo. O LP conta ainda com sucessos que consagraram o cantor, como “Apenas um Rapaz Latino-Americano“, “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida”.

Ao comentar sobre algumas características da obra de Belchior, o colunista Gustavo Conde afirma que “Belchior constrói scripts que conduzirão toda a sua obra de maneira quase obsessiva”; “lida com dicotomias retoricamente muito poderosas e geradoras de energia narrativa: o velho e o novo, o passado e o presente, o conhecido e o desconhecido, o contemplado e o contemplador, o cantor e o ouvinte, a origem e o fim, o popular e o erudito e a urgência e o vagar”; “esses contrários são as molas narrativas que lançam em cena um sujeito tomado por uma tensão filosófica incessante”.

Mas para a tristeza de muitos, ainda no auge Belchior decidiu abandonar a cena cultural sem maiores explicações, esclarecimentos, declinando inúmeros convites para shows e apelos do seu público fiel.

Na biografia ‘Belchior – Apenas um Rapaz Latino-Americano’, escrita por Jotabê Medeiros, este narra em certa passagem do trabalho, que Belchior começou a desaparecer em 2007:

 

“Que as evidências de que seu sumiço era inusitado e ‘misterioso’ foram sendo levantadas pela imprensa e por alguns vestígios que corroboravam a tese de uma fuga doida: além do ateliê abandonado, agentes que não conseguiam marcar show, pensões atrasadas, celular desativado, familiares que não conseguiam dizer como encontrá-lo, amigos que não sabiam mais seu endereço e, enfim, as primeiras dívidas”.

 

Saudemos a lembrança de um artista, sua música e poesia que ultrapassa as dimensões usuais, num tempo de sucessos bem discutíveis, onde Pablo Vittar e Anitta faz parceria em que durou apenas um “feat”; e Anitta grava programa no canal  Multishow, tendo como convidados Jojo Todynho, David Brazil e Tirulipa. Sem nostalgia ou animosidade, melhor mesmo é debandar de vez, rumando a marca dos pneus na água das ruas pelas estradas nuas.

A obra musical de Belchior, nada sofreu com a corrosão do tempo. Permanece viva e, por certo, será eterna.

João Pessoa, janeiro de 2019.

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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