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O fantasma que me cerca na UTI das boas lembranças do futebol

O som do ambiente hospitalar não me deixava esquecer da tormenta.

 

Aquele bip intermitente de máquinas conferindo se há vida em corpos estranhos era a reprodução de tudo o que eu queria ofuscar.

 

Quanto mais me afastava, mais era atraído…

 

Acatei e até vibrei com o horário de consulta na hora do jogo. Algo estranho, Denise diria “inédito”, se soubesse do que se passava em outro canto.

 

Aproveitei para desativar notificações de aplicativos.

 

Me sentia totalmente protegido de alguma desventura e fingia que nada de relevante ocorria naquele mesmo horário.

 

Tentava, pelo menos.

 

Logo, chegou uma mensagem amaldiçoando o Vitória. Esqueci de desativar os malditos grupos de zap.

 

Era gol do CRB. Menos de dois minutos de partida e já 1X0 contra. Consegui dois míseros minutos alheio ao infortúnio, mas fui resgatado à realidade por portadores da desgraça.

 

A partir daí o barulho das máquinas de ressuscitar defuntos se elevou a níveis insuportáveis.

 

A sala de espera parecia uma UTI. Sinais fracos, quase incaptáveis, mas a máquina continuava apitando ali, em ritmo contínuo.

 

Batimento cardíaco falho, respiração artificial.

 

Era o ECV, moribundo, respirando por aparelhos…

 

Bloqueei os maus agouros.

 

Consegui desplugar.

 

Digo, desligar a mim do processo. O ECV continuava sua saga pela vida.

 

Entrei no consultório médico, carregando a tiracolo meu caçula e acompanhando minha mulher, a responsável por estarmos ali.

 

Compenetrado na questão de saúde familiar, não tive mais notícias do Vitória.

 

Consulta realizada, próxima parada eram as farmácias para pesquisa de preços.

 

Logo três lado a lado.

 

Na primeira delas o prestativo atendente me diz que cobre preços das concorrentes. Assim, seriam quatro visitas, porque, fatalmente, retornaria ali em busca de melhores condições.

 

Minhas economias não são o Vitória, mas precisam lá das suas forças extras.

 

Preços consultados retorno a “farmácia dos descontos”.

 

Nesse momento, confesso até que esboçava um sorriso, tamanho desligamento consegui atingir do que se passava no momento, alhures.

 

Pesquisar e economizar é comigo mesmo.

 

Me dirijo ao cidadão, confirmo preços daqui e de lá, equiparamos valores, descontos obtidos…

 

No preenchimento de dados o RG da Bahia o chama atenção:

 

-Ah você é baiano?

 

Confirmo que sim, com o trocadilho já gasto, tal qual as minhas camisas do Vitória:

 

-Sou Paraibaiano.

 

No que, de imediato, ele responde:

 

-Eu também. Morei 14 anos em Camaçari. Acabei de consultar no celular o resultado do meu Vitória e está perdendo por 2×1 para o CRB.

 

Paralisado, buscava alguma explicação para aquela fala desconexa, aquela situação surreal.

 

Atônito, imaginava o fantasma do ECV me assombrando, vindo cobrar minha quebra de lealdade nos momentos finais de sua existência, ou coisa do tipo.

 

Eu, que não acredito muito no sobrenatural, perplexo, tentava entender aquela pegadinha.

 

Vendo meu entorpecimento, o cidadão rindo, apontou para minha carteira aberta no balcão com identificação de sócio e o símbolo do Vitória estampando o cartão (aquele mesmo plano, que prometo cancelar há mais de ano)…

 

Menos mal, o ECV parece ter morrido, mas ainda está vivo, devaneio.

 

Aproximação reestabelecida o irmão rubro-negro emenda com conversas sobre o tempo que ia a Fonte Nova, Barradão, sua coleção de camisas do Leão etc e tal.

 

Daí descambamos para conversas sobre épocas de glória do time e desembocamos na Nêgo Jampa, nossa torcida de representação do ECV aqui na Paraíba, a mais antiga fora de SSa em atividade, devo frisar!

 

O Simorion, Semarion, Samaroni (sim até o chamamento do cara parecia nome de remédio) não só conhecia, como foi o primeiro a citar a torcida no papo entre nós.

 

De imediato, pensando nos amigos e aventuras da Nêgo Jampa, até me acalentei sobre a situação do meu Vitória.

 

Ano que vem tem a tenebrosa terceira divisão com jogos aqui em JP e cidades do entorno.

 

Nós, com certeza estaremos lá, religando aparelhos e mantendo o clube vivo, mesmo que ele insista em eutanásia!

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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