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O fenômeno Måneskin e a autossabotagem do Rock – novo artigo de Marcos Thomaz

Quando fiz minha primeira marca na pele sobre Rock`n roll… Era uma tatuagem com desenho de capa do Clash contornada por uma canção clássica dos Stones.

 

Na primeira vez que me viu, meu tio disse: ” rapaz e quando vc não gostar mais de rock?”

 

Não entendia ele que o Rock nunca desentranharia de mim. Estava grudado na pele mais que tatuagem, desde antes, viu Buarque?? É estilo e leitura de vida. Ele não sabia, menos ainda tinha obrigação de saber disso, ou entender assim. Não era o que vivia, vive. Pois bem. Este é meu meio, norte, quadrado no universo. E assim prossigo aos quarenta.

 

Muito além da sonoridade, mas alimentado por esta energia sempre. Vejo rock´n roll no vigor de Jackson do Pandeiro, na transgressão de Totonho, na ousadia de Ney Matogrosso… padrões, melodicamente fora, distantes do rock, mas umbilicalmente ligados a ATITUDE que rege o estilo.

 

Nunca gostei de bolhas. Nem as do Rock. Aliás, essa é a mais incoerente de todas. Se o rock me encorajava a mergulhar na Matrix, imergindo ao submundo dos questionamentos e, em contraponto, me fazendo emergir ao universo da reflexão livre, se ele me estimulava a desconstruir conceitos, livrar de amarras-padrão, não seria ele a me prender em “guetos”, engessar-me quanto a gostos, grupos, determinar padrão de comportamento, vestimenta etc.

 

Isso pra mim sempre foi coisa de poser, aquele tipo “modinha” que se preocupa mais com a imagem dele, manutenção de uma postura para se apresentar aos outros.

 

Tem ainda os cults, aquela “espécie” que se pavoneia de curtir os sons mais excêntricos. Finge só gostar de música “fora das prateleiras”. O maior orgulho é citar em rodas de conversa, ou grupos virtuais, bandas que só ele conhece. Fazer sucesso, jamais. Crime imperdoável.

 

Assim como os trues, os xiitas, extremistas que se “enjaulam” em uma única e permitida linha do gênero.

 

Ou a coisa ultrapassada em reduzir o rock entre headbangers e punks . Curto muita coisa de ambos estilos. Bastante. Mas é muito démodé enquadrar o próprio Rock e essa dicotomia simplória não dá.

 

É exatamente em torno destes exemplos acima que o Rock se auto-isola.

 

Fora das principais vitrines do grande mercado há anos. Talvez vivendo o maior ostracismo de sua longeva e ruidosa história, o estilo mais universal de todos os tempos reapareceu para o grande público em visual andrógino e língua latina chocando puristas e radicais.

 

A nova e talvez única banda de Rock a ocupar “as paradas de sucesso” hoje vem da Itália. Vejam só da terra dos 3 tenores, Andrea Bocelli, Laura Pausini, Eros Ramazzoti (o pai do forró anasalado-procure saber)…

 

É lá da “terra da bota” que vem o Renascimento (recebam o trocadilho infame aí) midiático do Rock.

 

Måneskin é o nome do grupo.

 

Quatro jovens na faixa dos 20 anos de idade, três homens e uma mulher, pouco preocupados com essa identificação de gênero binária.

 

Uma overdose de Glam Rock.

 

Um frontman incendiário, provocador, feminilizado e agressivo ao mesmo tempo, na melhor escola dos grandes do estilo.

 

Guitarras emulando um hard rock.

 

Cozinha passeando por White Stripes.

 

Rock dançante na pegada The Killers.

 

Rock em língua latina, mesclada de versões arrojadas para sucessos pop.

 

Mas o que dizem os guardiões, ou detentores do manual do Rock? Viram a cara. Negam o fenômeno em absoluto. Mais que isso, demonstram insatisfação, indignação com o surgimento da banda. Isso, instantes após se lamuriarem que o gênero preferido não tem mais espaço, vive segregado, periférico nas redes.

 

Não sou maior conhecedor, quiçá fã dos italianinhos, mas reconheço muitas virtudes no som, estética, atitude deles. Tem elementos do rock aos montes ali, gostem, ou não, os curadores do rock mundial.

 

E para desespero do Olimpo roqueiro Brazuca o Måneskin deve ser confirmado oficialmente como atração do Rock in Rio 2022, já causando alvoroço nas redes, apenas enquanto expectativa.

 

Não vou, mas acho ótimo o Rock transgredindo em evidência, nesta, ou em outras roupagens.

 

The Rock´n roll save my soul, again and ever…

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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