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EM BLOCO, OU ISOLADAMENTE- Para que “lado” caminha a esquerda brasileira?? – Leia Marcos Thomaz

O PSOL elegeu pela segunda vez* na história um prefeito de capital.

 

O eleito, Edmilson Rodrigues, em Belém do Pará, já havia administrado a cidade duas vezes antes, exatamente pelo… PT.

 

O mesmo PT que, pela primeira vez desde a redemocratização, ficou sem nenhuma capital brasileira a administrar.

 

O PSOL é um partido oriundo do PT. Foi criado por dissidentes expulsos do Partido dos Trabalhadores.

 

Os nós que unem estas pontas poderiam, a olho nu, resumir a análise sobre o novo panorama da esquerda nacional com base nestas últimas eleições municipais.

 

A idéia de um partido formado por excluídos, que consegue chegar ao poder representado por outro egresso da legenda que o originou, ficando essa ao ocaso. Esse caso de Belém poderia simbolizar o aparente processo de troca de liderança na esquerda brasileira. Mas o cenário, a despeito das aparências máximas, é bem mais complexo.

 

Se Boulos, independente da vitória, representa o grande expoente da esquerda brasileira neste pleito… Se o PSOL foi o partido que mais cresceu entre a esquerda, tanto em prefeituras quanto vereadores…

 

E se, por outro lado, o PT registrou nova e significativa perda de espaço político, caindo em prefeituras e representantes nas câmaras…

 

Ainda assim são incomparáveis os números entre as legendas a nível nacional para se apontar qualquer troca de “comando”na capitania da esquerda nacional em curto espaço de tempo.

 

Ao PSOL faltam longas léguas para se “espraiar” em todo o território brasileiro, se interiorizar e virar um partido nacional por inteiro. O PT, mesmo agora, no claro e vertiginoso declínio de 2020, por exemplo, elegeu mais de 2.400 vereadores contra apenas 75 do PSOL. Em prefeituras a diferença ainda é também abissal na proporção de 30 para 1. Muito respeito ao legado do PT e, ainda, a sua densidade nacional.

 

Mas, em meio a estas comparações e disputas internas entre a esquerda brasileira, as eleições municipais deixam mais elementos de aproximação, que afastamento, o que confere otimismo quanto a decantada união do bloco progressista nacional em um futuro próximo.

 

Se mesmo em São Paulo PT e PSOL estiveram em lados opostos no primeiro turno, assim como no Rio de Janeiro, o segundo turno trouxe um sopro de esperança aos que apostam na coesão da esquerda brasileira contra o Bolsonarismo com vistas em 2022.

 

Há tempos não se via um alinhamento e engajamento coletivo dos principais partidos progressistas em torno de candidaturas diversas de todos os cantos do Brasil.

 

O PT, o PDT, o PSOL, o PSB e o PC do B estiveram juntos, por exemplo, nas disputas do segundo turno pelas prefeituras de Porto Alegre, São Paulo e Fortaleza (apesar de vozes dissidentes aqui e ali do PSB em São Paulo e Porto Alegre). Algo não visto há tempos no Brasil, onde os acordos e costuras locais vinham suplantando a perspectiva de construção de projetos maiores.

 

O grande “calcanhar de Aquiles” nesse processo de unidade das esquerdas foi Recife, onde a disputa familiar entre o PSB representado por João Campos derrotou o PT de Marília Arraes em um cenário de hostilidade e absurdos. A capital pernambucana rachou o bloco em dois com dificuldades locais de reaproximação.

 

Mas, para além do desejo das lideranças de efetivamente cristalizarem essa unidade de bloco para 2022, à militância de ambos os lados cabe uma cartilha básica:

 

Derrubar de vez o Tribunal Ideológico montado nos QGs. Especificamente na cisão entre o PDT de Ciro Gomes e o PT de Lula.

 

Aos “ciristas” cabe ultrapassar a narrativa hegemônica de antipetismo, propalada como um mantra ainda hoje. Cansa e desconstrói. Boulos deu uma aula de como se sobressair em uma campanha, sendo de esquerda, sem ter que atacar o PT e corroborar com o conceito, que redundou no golpe e tanto interessa a direita nacional.

 

Aos “petistas” cabe deixar de bancar os líderes do “Clube da Luluzinha e do Bolinha”, que só deixam entrar na “casinha”, quem eles querem. Essa visão geográfica estapafúrdia de “mas o Ciro não é de esquerda!”, “eu sou mais de esquerda que você”. Ok, o PSTU se arvora ser a única esquerda real brasileira, mais à esquerda que eu, você e o Lula. E daí?? Onde está esse purismo de esquerda na trajetória do próprio PT??

 

Evoluamos, gostem, ou não, queiram engolir, ou não, o PDT de Ciro Gomes tem pautas progressistas e assim se definem/alinham. Ah, mas vão continuar preferindo preterir, afastar um partido que se assume no bloco e hoje detém a maior quantidade de prefeituras dentre os tais??

 

À todos os partidos de esquerda o recado mais claro é a importância de voltar as bases, raízes, entender de onde parte o “grito” e sentido da existência dessas legendas: a periferia e a classe trabalhadora das cidades brasileiras. Se não, nenhuma teoria, arranjo, costura de alianças, nada disso faz, ou fará muito sentido…

 

*Clécio Luís foi eleito prefeito de Macapá em 2012, mas deixou o partido um ano antes de terminar o mandato alegando necessidade de ampliar as relações políticas, em um claro sinal de preocupação com a eleição vindoura.

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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