Na manhã desta segunda-feira (19), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados preliminares do Censo Demográfico 2022 para a Capital da Paraíba, na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). O evento aconteceu no Plenário Senador Humberto Lucena e foi destinado às instituições públicas, privadas, associações e entidades de classes.
O presidente da CMJP, Dinho Dowsley (Avante), presidiu os trabalhos e agradeceu a presença dos vereadores que mesmo em período de fim de semestre e com as demandas intensificadas das comissões, prestigiaram a exposição dos dados. “Estamos prestes a votar a LDO e os vereadores estão trabalhando intensamente para que façamos um esforço concentrado amanhã e possamos dar início ao recesso, mas para que se tenha ideia, os dados do Censo possibilitaram a mudança que nos trouxe mais dois assentos nesta Casa que na próxima legislatura passará de 27 para 29 vereadores. O Censo é muito importante e aumenta a representatividade do povo na Casa Napoleão Laureano”.
Na seqüência, o superintendente do IBGE, Roberto Salgado, agradeceu o apoio das instituições, da imprensa e da população na realização do Censo. Ele ressaltou a complexidade e magnitude do desenvolvimento da pesquisa e destacou o desempenho do estado. “Foi o melhor censo já feito em todos os tempos. A Paraíba deu um show. João Pessoa colaborou, a população colaborou e não foi à toa que o estado da Paraíba foi exemplo de censo para o país. Nosso índice de não resposta foi o menor do Brasil, de 1,7%. Gostaria de agradecer a colaboração e disponibilidade de toda população paraibana em ter respondido ao IBGE. A população paraibana deu uma demonstração de cidadania, que deve ser mostrada para o país todo”, ressaltou.
“Construímos as condições de continuar cumprindo com a missão institucional do IBGE, que é retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania”, afirmou o responsável pelas Relações Institucionais do órgão na Paraíba, Lamartine Candeia, destacando ainda que o IBGE contribui com informações que são fonte de referência para o conhecimento das condições de vida da população em todos os municípios do país e seus recortes territoriais internos.
Francisco Eugênio, coordenador operacional do IBGE, explicou que o instituto faz um panorama objetivo e atual do país, ressaltando a credibilidade dos resultados obtidos. Segundo ele, o Censo Demográfico é a principal fonte de dados, e essas informações são a base para um planejamento estratégico. A pesquisa também é feita com a finalidade de fundamentar e criar políticas públicas.
Dados Preliminares
Ainda de acordo com Francisco Eugênio, os dados apresentados são brutos e preliminares. Informações e detalhes serão passados no próximo dia 28, quando serão divulgados os resultados nacionais.
Segundo ele, em 2022 foram recenseados 377.517 domicílios, dos quais 296.256 são particulares permanentemente ocupados e 58.884 são particulares permanentes vagos, que estão para venda ou aluguel. Outro dado apresentado foi o aumento do percentual de pessoas com mais de 69 anos, de 3,75 em 2000 para 6,55 em 2022, e a diminuição de pessoas menores de três anos, de 5,16 em 2000 para 3,53 em 2022.
O coordenador também contou que, antes de partir para as entrevistas, foi realizada uma pesquisa urbanística do entorno dos domicílios, em que se observaram aspectos como acessibilidade, equipamentos públicos, meio ambiente e circulação. A cidade foi dividida em setores e cada recenseador ficou responsável por um. Critérios como quem deve ser recenseado, modelos de questionários, georreferenciamento e data de referência foram seguidos a fim de garantir mais precisão de dados e não deixar nenhum endereço de fora. Também foi feito um trabalho de controle de qualidade da cobertura, em que o recenseador é fiscalizado por diversas pessoas.
Segundo informado por Francisco, agora, os dados populacionais resultantes da coleta do Censo Demográfico serão encaminhados pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Sociedade civil destaca importância dos dados coletados
Representando a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), Marcus Alves, diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), enfatizou a credibilidade dos dados fornecidos pelo Instituto. “Esses dados vão poder formatar as políticas públicas. Tudo muda o tempo todo. A gente tem que ter um olhar preciso a partir da ciência”, comentou.
O diretor executivo da Funjope ainda destacou: “O IBGE analisa dados e eu analiso comportamentos e experiências sociais. É fundamental ter um ‘olhar fino’ sobre esses dados para criar uma matriz. A gente tem que ficar muito atento aos dados que vêm de vocês, para trabalharmos uma projeção para os próximos dez anos”. Como representante da PMJP, ele reforçou o compromisso da gestão municipal no tratamento das informações fornecidas.
Por sua vez, o diretor geral do campus João Pessoa do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Ricardo José Ferreira, destacou a importância dos dados censitários pelo olhar da educação. “O mundo está se transformando rapidamente e a educação, cada vez mais, se mostra como ferramenta essencial para que possamos acompanhar essa transformação de maneira adequada, responsável e saudável”, reforçou.
A professora e representante da Central Única das Favelas (Cufa) na Paraíba, Edmary Tavares citou a importância de incluir nos dados os moradores das favelas e comunidades. “Todo esse trabalho que o IBGE iniciou, juntamente com o Data Favela para fazer esse levantamento e colocar a favela no mapa; dar visibilidade a um local tão invisibilizado, é um marco histórico”, avaliou, salientando que esses dados vão potencializar as ações da Cufa nessas localidades.
A inclusão das comunidades quilombolas no recenseamento também foi comemorada por Joseane, líder do Quilombo de Paratibe e representante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e da Coordenação Estadual das Comunidades Negras Quilombolas da Paraíba (CECNEQ). “Atuo há 16 anos como militante dentro das comunidades quilombolas e posso afirmar que nós nunca tínhamos passado por um Censo como esse que foi realizado agora em 2022. Até então, o quilombo estava escondido, e isso era muito negativo para nós, porque a gente não conseguia políticas públicas para dentro da comunidade. A gente vem num processo de regularização, de afirmação e de resistência, e o IBGE vem nos fortalecendo, nos ajudando a dar visibilidade ao quilombo”, parabenizou.
A coordenadora do Movimento Orgulho Autista na Paraíba, Rossana Carneiro, alertou para o número crescente de crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mundo e afirmou que, ao responder o questionário do IBGE, não lhe foi perguntado a respeito de seu filho, que é autista. “Não sabemos o número de autistas em João Pessoa. Precisamos muito desses dados para que as políticas públicas avancem”, enfatizou.
Em resposta a Rossana Carneiro, o superintendente do IBGE, Roberto Salgado, explicou que foram aplicados dois tipos de questionários, de acordo com o tamanho da cidade, e que as informações sobre as pessoas autistas foram colhidas por um questionário de amostra que levava cerca de 15 minutos para ser respondido. “Se fosse aplicado na população inteira, inviabilizaria o censo”, afirmou. No entanto, Roberto garantiu que os dados foram levantados, porém de maneira amostral. Ele destacou ainda que o IBGE já está sendo demandado para fazer outras pesquisas que apurem mais dados a respeito das pessoas dentro do espectro.
Integração de base de dados
O coordenador da base territorial do Censo 2022 na Paraíba, Fernando Lins, destacou que a Prefeitura de João Pessoa foi a primeira com a qual o IBGE firmou convênio para troca de informações administrativas. “João Pessoa vai servir de modelo para o IBGE fazer o que a gente chama de integração de base de dados de endereços. O convênio que estamos fazendo com a Prefeitura vai permitir que a gente crie um modelo a ser implantado em outras cidades, usando os dados coletados para construir políticas públicas”, informou.