Não restam dúvidas de que a eleição recente de Luiz Inácio Lula da Silva foi, em parte, resultado de certas situações. Uma delas é que o presidente eleito obteve os votos de seus parceiros do PT e os de seus constantes eleitores. Outra situação é que, em parte também, recebeu os votos daqueles que quiseram estancar o avanço da insensatez no país, e em direção à autocracia fascista, que na visão do filósofo, Peter E. Gordon, da Universidade Harvard, é um método fascista de estimular a raiva contra quem supostamente usurpou a antiga grandeza do povo. Aliás, e segundo o cientista político Larry Diamond, a verdadeira natureza desse fenômeno que perturbou a democracia brasileira, entre 2019 e 2021, só será verdadeiramente assimilada quando o governo de Jair Bolsonaro tiver completado o trajeto que lhe couber e for devidamente colocado no contexto mundial.
Mas o fato é que a democracia venceu, e o Brasil precisa voltar à uma constância de normalidade, porquanto não é recomendável que as aglomerações em frente aos quartéis sejam vistas como normais, notadamente quando apelam por medidas inconstitucionais, como a intervenção militar, para não permitir que o presidente eleito tome posse, tentando assim, solapar os fundamentos do Estado democrático.
Acreditamos até que se gerou um quadro de revolta quando da aparição do deputado Eduardo Bolsonaro no jogo do Brasil contra a Suíça na Copa do Mundo do Catar, e com isso tem diminuído as manifestações, pois provocou em bolsonaristas um clima de confusão mental, principalmente naqueles que se envolvem na busca de um terceiro turno da eleição presidencial, ou tenta manter o pai do deputado na presidência de forma ilegal. Sentiram-se surpresos e desamparados pelo filho Zero Três naquele momento, entendendo que o fato dele estar vibrando com o futebol do Brasil no Catar é sinal de nenhum acontecimento novo no país.
Ora, e para que continuar insistindo em nova eleição, se a segurança das urnas foi atestada pelo Tribunal de Contas da União, pela Ordem dos Advogados do Brasil e pelas próprias Forças Armadas, que não constataram qualquer indício de fraude? Sem olvidar que três missões internacionais de observação eleitoral também garantiram a fidedignidade e autenticidade do resultado. E também não há possibilidade no ordenamento jurídico de um terceiro turno, não nos moldes constitucionais.
Assim sendo, as eleições são águas passadas, e, apesar da presença de bolsonaristas em frente aos quarteis pedindo intervenção militar, e “fazendo o diabo” para não largar o osso, temos a convicção de que o risco de não posse, continua sendo zero.
Na verdade, apesar da hostilidade constante em que estamos mergulhados, o Brasil precisa é de arrojo e destemor para enfrentar problemas vários que se condensaram, pois em todos os cantos e recantos aonde formos, por exemplo, encontraremos alguém a estender a mão, pedindo comida, dinheiro, qualquer outra coisa, para matar o monstro que está lhe devorando.
O Brasil retrocedeu no Mapa da Fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. Os números oficiais endossam o que vemos nas ruas, nos ônibus, metrôs, mercados e parques. Em todos os cantos, vê-se o espetáculo da miséria.
Atualmente em nosso país, planejamento governamental não há, e tudo é improviso de má qualidade; o orçamento transformou-se em peça libertária, com fatias avidamente devoradas pelas “emendas parlamentares”; patamares de remuneração e de gastos públicos são afrontados por leis de moral duvidosas, ou por subterfúgios administrativos.
Para reverter esse quadro será imprescindível pôr em execução uma verdadeira reforma do Estado, o que demanda eficiente elaboração e, sobretudo, uma complexa articulação política.
O que não pode é bolsonaristas, sem argumentos plausíveis, começar a defender o impeachment do presidente eleito, sem este sequer ter tomado posse. Ora! deixemos o presidente trabalhar. Ele foi eleito para isso.
Como diria ele próprio: “é hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio. A ninguém interessa viver num país dividido e em permanente estado de guerra”.
João Pessoa, dezembro de 2022.