Os registros dos recordes, dos resultados, dos títulos, retratam a concepção no esporte, que é sempre avançar, progredir. É a quantificação dos resultados que registra a história de diversas modalidades e dos seus heróis.
Um exemplo clássico é no futebol, onde numa partida que é realizada em 90 minutos, mais o tempo extra de acréscimos apontados pelo árbitro, quando o embate é bom, o tempo passa rápido. Da mesma forma, quando nosso time está perdendo os minutos são como segundos e a relação se altera quando estamos ganhando e sendo sufocado pelo adversário. Neste último caso, os minutos se arrastam em lentidão. Mas tudo isto tem um objetivo: avançar nas conquistas.
Quem não vivenciou tal relação com o relógio durante uma partida, com um gol redentor nos acréscimos ou quando a partida está quase esgotando o tempo regulamentar, não saberá o que estamos dizendo.A torcida do rubro negro carioca, por exemplo, nunca tirou da memória o épico e eternojogo do Flamengo, navitória sobre o Vasco no segundo jogo da final do Campeonato Carioca em 2001, com o tamanho do gol de falta aos 43 minutos, marcado por Dejan Petkovic, onde o mais querido faturou mais um título em cima do ex-rival.
Somente para relembrar, a história começou uma semana antes, quando o Flamengo saiu de campo derrotado pelo Vasco no primeiro jogo da final do Campeonato Carioca. Petkovic já havia entrado em ação nesse embatee abriu o placar, mas Viola e Juninho Paulista para desespero do rubro-negro carioca deixaram o time cruzmaltino com vantagem passível de ser levado em conta.
O tempo dedicado aos proclamas para a partida, é também um ato do espetáculo, poistambém é algo peculiar, mesmo sendo o outro lado da bola. Nos bastidores, os atletas em formação, e nas arquibancadas, torcedores, além do amparo logístico, equipes de segurançae médica, ambulância, policiamento, e, é óbvio, os veículos de imprensa, fazem esse tempo acontecer e em muitas oportunidades eternizam lances, derrotas e vitórias, até ouvir o apito inicial.Imaginem os polêmicos megaeventos futebolísticos para a dimensão cotidiana do torcer.
Em uma narrativa do jornalista e cronista esportivo Juca Kfouri este afirma: “Telê um dia revelou que gostaria de ver os jogos dos times que dirigia das arquibancadas, ao lado da torcida. Porque, assim, poderia avaliar se os atletas estavam executando o que treinaram e se agradavam aos que pagaram ingresso para vê-los”. Estes, são pontos positivos.
Mas nesses tempos de pandemia, tudo está sendo impiedoso para o processo de seleção de ingresso de atletas nas categorias de base de um clube de futebol (leia-se: sub-11, sub-13, sub-15, sub-17, sub-20 e sub-23).Os clubes durante o auge da pandemia da COVID-19 fecharam seus centros de treinamento, cancelaram as peneiras e competições foram suspensas. Entretanto, essas pedras preciosas precisam de lapidação,pois, a perda de treinamentos, competições e outras oportunidades, significa não serem percebidos pelos olhares do futebol, e como diz o adágio popular “quem não é visto, não é lembrado”.Sem dúvidas, os anos de 2020 e 2021 criaram uma vaziez espacial na formação das categorias de base do futebol, algo que também pode ser observado em outras modalidades esportivas.
O desafio que se impõe no momento é a retomada dessas atividades, para que esses gruposde jovens sonhadores, inclusive muitos que já se encontravam residindo nos alojamentos dos clubes, longe de casa, com contratos de formação vigentes, ou que justamente buscavam entrar neste universo profissionalizante, não percam mais essas oportunidades não só de treinar e competir, mas também de receber uma formação pelos clubes.
Talvez não tenhamos percebido, mesmo assistindo às partidas e acompanhando campeonatos, mas nesses quase dois anos de pandemia essa geração de atletas deixou de ser observada e reconhecida nos muitos campos de treinamento.
E a verdade é que, nesse período de pandemia, o tempo parou para os candidatos a atleta profissional, mas a bola continuou sempre rolando para os já profissionais.
João Pessoa, novembro de 2021.