Vinculado ao charme e à elegância por muito tempo, sobretudo devido à associação de grandes estrelas do cinema ao cigarro, o consumo do tabaco no Brasil tem caído nas últimas décadas. Mas, segundo os especialistas, apesar dos bons números, esta batalha ainda não está ganha, principalmente com o uso ainda em alta entre os adolescentes e jovens e da adição do cigarro eletrônico.
Neste domingo (29), é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data tem o objetivo de reforçar as ações e mobilização da população para os danos causados pelo tabagismo. “É preciso tirar o glamour do cigarro. Ele não é charmoso, mas, sim, antissocial”, lembra o pneumologista Sebastião Costa, médico cooperado da Unimed João Pessoa e presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba (AMPB). “Pelo menos, 56 doenças estão associadas ao seu consumo e ele possui mais de sete mil substâncias nocivas à saúde”, alerta o médico.
As substâncias nocivas e o potencial viciante estão presentes não apenas no cigarro convencional, mas também no eletrônico, conhecido como vaporizador ou, simplesmente, vape. Sebastião Costa destaca que existe a ilusão, principalmente entre o público jovem, de que este tipo não tem nocividade. “Ele é tão viciante quanto o convencional, pois tem nicotina, substância que também é vasoconstritora e pode causar hipertensão, assim como é grande responsável pelos infartos que acontecem em usuários do tabaco”, alerta.
Tentação — De acordo com pesquisa da revista científica Lancet, publicada em maio deste ano, o Brasil teve a maior redução na prevalência padronizada por idade (acima de 15 anos) de consumo de tabaco no mundo. O que preocupa é que, no caso específico dos vaporizadores ou vapes, o uso não para de crescer, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os fabricantes têm crianças e adolescentes como principais alvos.
Os inaladores eletrônicos de nicotina possuem uma variedade de aromas que são tentadores aos mais jovens. Outra preocupação, sugerida pela Universidade da Califórnia, é que jovens que experimentam o vaporizador têm três vezes mais probabilidade de se tornarem fumantes diários com o passar dos anos, se comparados a quem nunca usou o dispositivo.
Outro perigo contido nos cigarros – de qualquer tipo, vale reforçar – é a arnitrozamina, uma substância altamente cancerígena que pode, ainda, colaborar para o aparecimento de bronquite crônica.
Fumo e covid-19 – Quem fuma tem mais dificuldades em relação à covid-19. Sebastião Costa explica que existe uma enzima conversora do hormônio angiotensina que ajuda o vírus a entrar na célula para se reproduzir e provocar infecção. “Os fumantes têm uma quantidade maior dessa enzima, o que pode facilitar a ação do vírus”, diz.
Segundo o pneumologista, o sistema respiratório do fumante já tem uma estrutura com inflamações causadas pelas substâncias do cigarro. “A covid-19 age de maneira semelhante influenciando no processo inflamatório, o que pode levar a pessoa a ser hospitalizada e necessitar de oxigênio”, alerta.
Palestra na Unimed JP – Em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, a Unimed João Pessoa irá promover uma palestra on-line para os seus médicos cooperados com o tema “Tratamento do Tabagismo no Consultório”. Ministrada pelo pneumologista Sebastião Costa, a palestra será segunda-feira (30), às 19h. O link será enviado pelo plano de saúde para os médicos.
“Vamos repassar conhecimentos de como fazer um fumante parar de fumar, principalmente enfatizando as dependências à nicotina e psicossocial, bem como realizar a abordagem congnitivo-comportamental, para atuar junto ao tratamento medicamentoso”, destaca.