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A Imprensa paraibana sabota a sociedade e se auto-flagela ao relativizar a democracia – Por Marcos Thomaz

A Grande Mídia paraibana precisa se reinventar.

 

Assusta o anacronismo, a desconexão da atuação jornalística local com a percepção da linha editorial que é “impressa” em termos nacionais.

 

Não que não haja “militantes” do excército verde e amarelo lá!?!? Há muitos, em profusão, mas em linha geral a criticidade emerge.

 

Aqui o índice, percentual de” bolsonaristas de carteirinha” presentes nas rádios e Tvs paraibanas é desproporcional ao denuncismo que assistimos em outros lugares do país.

 

Calma lá coleguinha de “cara pálida”. Não estou exigindo partidarismo, menos ainda unidade geral da turminha com meu pensamento político etc e tal.

 

“A verdade que salva e liberta é uma só”: combater o bolsonarismo, há tempos, deixou de ser algo sectário, ou referente à escolha de qualquer lado.

 

Tem a ver única e exclusivamente com a defesa das estruturas democráticas.

 

A democracia, este bem inalienável, pilar básico da qual se alimenta e é alimentada exatamente a atividade da imprensa.

 

Preciso relembrar episódios, ou citar exemplos de quantas vezes Bolsonaro fez isso despudoradamente? Há necessidade de enumerar quantas vezes a liberdade de imprensa foi ata cada por ele??

 

Claro que é desnecessário. Mas se insiste, basta aguardar a primeira, próxima declaração do senhor que ocupa o Palácio. Pode ser em coletiva à imprensa, vídeo caseiro do cercadinho de apoiadores, ou naquelas lives apócrifas que produz às quintas-feiras, por sinal hoje.

 

Voltando a boa Paraíba

 

Esta semana fui fazer o que tem se tornado, ultimamente, em uma indigesta missão: zapear pelos programas jornalísticos do “meio dia radiofônico” na capital paraibana.

 

Na líder de audiência local pude ver-ouvindo aquele já famoso comunicador, nas horas vagas animador de campanha, publicitário eleitoral, ou vice-versa. Enfim, fato é que o profissional rasgava elogios ao presidente Bolsonaro e, explicitamente, ao comentar sobre uma ação de irrigação financiada pelo governo federal no Ceará, ele quase mandou um “chupa Lula” no AR.

 

Entusiasticamente vibrava com a estratégia de Bolsonaro de se apresentar ao Ceará, terra de Ciro Gomes, governada por um petista, um dos estados mais populosos do Nordeste, região nacional onde o presidente detém a sua maior rejeição…

 

Comemorava o fato de lá estar Bolsonaro, em meio ao pior momento de popularidade, tentando lançar a pedra fundamental de resgate da imagem para seu projeto de reeleição.

 

No mesmo programa, aqui em João Pessoa, o locutor de rodeio, digo, o apresentador, falava para o gado, ou melhor comunicava ao público ouvinte, que “estão fazendo muito estardalhaço por conta do Fundo Partidário”.

 

Ele justificava o valor para realizar um evento da empreitada de uma eleição. Inevitável pensar que o raciocínio do colega é pelo fato dele ser indiretamente um dos beneficiados com a gorda fatia do PIB nacional destinada a bancar eleição (quase 1%). Reza a lenda que o comunicador tem como uma das suas fundamentais fontes de receita uma agência focada em serviços eleitorais na Paraíba. Quanto mais verba destinada a “festa da democracia” maior o pedaço que cada envolvido no processo poderá abocanhar.

 

Nada de ilegal, ou demérito em nenhuma das atividades paralelas, ou originais que exerce o profissional. São legítimas e exigem muita dedicação e aptidão para as funções,sejam elas a de “puxar” eventos de campanha, ou planejar e executar as estratégias de propaganda. Apenas me atenho na defesa de posições, utilização de espaço de concessão pública, como o dial de uma rádio, para defesa enfática de medidas tão indefensáveis e figuras inomináveis.

 

Sim, o referido comunicador não é o primeiro a se valer de um microfone na mão para “legislar em causa própria”. Não é ele o “pai da criança”, o inventor da patifaria, mas serve muito bem como ilustração da intitucionalização desta praxe desleal à audiência.

 

Tem outros perfis, mais sutis, que fingem neutralidade com o cenário, mas dão sustentação a narrativa de interesse bolsonarista ao manter viva a chama permanente da indagação filosófica mais “chinfrim” já produzida em território brasileiro: “Mas e o PT?”. A cada notícia desabonadora, comprometedora, ou simplesmente após a fábrica de absurdos proferida diuturnamente pelo presidente e seu núcleo duro, logo surgem os resgates de episódios ulteriores, análises de fenômenos pretéritos para evidenciar todos os pecados cometidos e alguns que se idealizaram sobre o partido da estrela vermelha.

 

“Variações do mesmo tema sem sair do tom”: o vermelho do PT, ou o colorido incandescente da bandeira do Brasil.

 

Exemplos simples de como a atividade radiojornalística, na Grande Imprensa Paraibana, se descola da realidade, dos interesses sociais, explicitamente.

 

E digo tudo isso para afirmar que tenho a clara noção da parcela de culpa que nós profissionais gerais do meio, além dos próprios agentes destas práticas espúrias, contribuímos para este cenário.

 

Relativizamos, fomos permissivos à cristalização de modelos controversos. Não falo sobre a necessidade de trabalhar para sobreviver, mesmo quando discordamos da prática, linha conduzida pela empresa e/ou superiores. Todo mundo tem fome e boca para alimentar. Minha crítica é direcionada a naturalização da conduta e quase entrega coletiva a esta realidade distorcida. Precisamos nos auto avaliar.

 

Depois não reclamemos que a demonização do jornalismo é apenas fruto da ignorância coletiva, ou ação orquestrada externa!

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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