Praguejo a chuva. Exijo sol porque quero ir à praia.
Mas suplico a chuva apenas para uma sinfonia aos ouvidos durante um domingo preguiçoso de casa e cinema.
Quero o tempo e a temperatura a meu bel prazer.
Interfiro nos astros, mudo latitude e longitude, alterno hemisférios.
Céu azul para o futebol.
Sol a pino para o churrasco, piscina e cerveja.
E chuva, enxurrada para lavar a alma naqueles dias de bad… trip, ou estática!
Espero o frio, deixo o vento gélido invernal chegar apenas para derreter minutos a fio sob a água escaldante do chuveiro.
“Tempero” o clima a gosto.
Combato o calor abafante com ar condicionado no talo, quando nem “ventilador no 3” dá mais conta. Tudo para poder me cobrir com a manta sertaneja que me enrosca a pele, atiça os pêlos, libera os poros.
Troco o dia pela noite. Faço o fuso horário que me convém.
Embaralho AM e PM, giro o relógio ao contrário, deixo o cuco afônico.
Sonho acordado, tenho revelações em sono profundo.
Elucido na escuridão, ofusco na alvorada.
Imponho ao Universo uma bipolaridade temporal.
Só não consigo voltar no tempo. O que já foi permanece sendo, mesmo soterrado.
As ruínas sempre esperam a seca para voltar à superfície e revelar sua face.
Destroços de outrora.
Cascadura me avisa, que “O Tempo pode virar”.
Ligo as turbinas, abro a vazante, libero as comportas, submerjo o passado.
Acelero o tempo, retorno ao presente, prevejo o futuro.
Falso Senhor das horas!
O cantador profetiza lá do Cariri; “Se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”.
Acordo do devaneio megalomaníaco.
Uma voz suave me retira do surto egocêntrico.
Em um sobressalto sobre assuntos banais Ben me diz: “Porque o mundo não é só seu. Ele é de todo mundo”.
Sua forma inocente de alertar-me que, “nem este, nem outro mundo gira ao meu redor”.
Distopia insone, simulações baseadas em mim, mas bem que poderia ser o seu alter ego. Não disfarce, confesse ao tempo, Gil já avisou que ele é Rei!
Melhor retroagir, entregar-se ao acaso temporal.
O relógio do mundo não dá corda, troca pilha, ou brilha em LED.
Tic-Tac contínuo, ritmo constante, a hora exata, o compasso marcado, observador dos seus passos.
Sempre preciso, inalterável, inexorável, te conduzindo ao insondável.
“E no balanço das horas tudo pode mudar”.