Com suporte numa prudência de conhecimento leigo contaminado de distorções não científicas, o uso de medicamentos em razão da pandemia tem se tornado pífio no Brasil. São não-médicos, leigos desacautelados se automedicando, e o que é pior: fazendo publicidade e passando o veneno para outros dizendo que esse ou aquele remédio “é tiro e queda”.
Também pudera, o próprio Chefe da Nação, está dando exemplo, quando numa campanha indiscriminada pelo uso da cloroquina, persistiu em mostrar intencionalmente uma caixa do remédio nas mãos, na frente de sua residência oficial, muito embora tenha sido contaminado pela covid-19, cujo diagnóstico foi comprovado por três vezes. E não custa lembrar que bem antes dessa atitude, o presidente aproveitou numa certa ocasião para reafirmar a indicação de cloroquina para tratamento da doença, através de um vídeo, onde em gesto patético ingere o remédio e sugere para a população fazer o mesmo. Nessa cena, se Bolsonaro quisesse ser ator, seria um verdadeiro garoto propaganda.
Para quem ainda não sabe, o Laboratório do Exército foi obrigado a aumentar a fabricação do “santo remédio”, além dos milhões de comprimidos que o Brasil recebeu como “doação” dos Estados Unidos, apesar do medicamento não ser recomendado pela comunidade científica, porquanto desaconselhado por estudos de diversos países, e organismos com credibilidade como a Organização Mundial da Saúde.
É bem verdade que as unidades hospitalares estão concentradas no atendimento de pacientes suspeitos de Covid-19, e por tal razão, as pessoas estão com medo de procurar um médico, e acabam tomando remédios por conta própria. Porém, o uso indiscriminado de medicamentos pode causar reações adversas, intoxicações, bem como agravar doenças, como bem comprovado pela medicina e a ciência, que desta feita estão andando de mãos dadas.
É bem verdade que no momento atual somos o segundo país com o maior número absoluto de mortos por milhão de habitantes, mas isto não significa dizer que a automedicação é a solução para afastar o inimigo invisível do nosso corpo. Contrariando tal situação, o presidente conseguiu expressar uma frase execrável: A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número 100 mil, mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema. Sem olvidar da famosa declaração ainda no início da pandemia: Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho. isto é sinal de comportamento antissocial, ao qual falta senso de responsabilidade moral ou consciência, que, diga-se de passagem, já vem sendo demonstrada há tempos. São suas explícitas nuances, como sendo, irresponsabilidade, falta de sentimento de piedade, e negação da graveza e magnitude da pandemia.
Ainda dá tempo de Bolsonaro se redimir de sua atuação reles diante da pandemia, e quem sabe unir os brasileiros nessa guerra que não tem previsão de quando vai acabar. Mas ele não tem essa estatura.
São os indícios significativos de nosso atraso cultural e mesmo social e político.
João Pessoa, agosto de 2020.