Encerrados o “Rua sem Folia” e um Carnaval que não vai atrás do trio elétrico porque há muito já morreu, com exceção dos resistentes e desafiadores blocos Muriçocas do Miramar, Cafuçu, Raparigas de Chico e Violando a Madrugada, é sempre bom lembrar que ainda temos bons espaços culturais em João Pessoa, mas não carnavalescos, a exemplo do Quiosque do Arruda, ou melhor, do Quiosque da Poesia.
O Quiosque da Poesia vem se projetando pela criação e desenvolvimento de um movimento artístico autoral. É sem dúvida hoje, em nossa Capital, o palco da sobrevivência desse mundo, tendo em vista a sua densidade poética e a capacidade de falar diversas linguagens populares, e com estilo próprio. É também um traço cultural catalisador que, de certa forma, demonstra resistência, defesa e faz eco e maximização da nossa cultura, pelo menos nos arredores, a exemplo da poesia e da música popular nordestina, rompendo com padrões adversos, pois ainda há, indubitavelmente, aqueles que discriminam essa bela arte, talvez por um abismo de vocação.
Nomes como Adailton Franca, Adilson Medeiros, Andrade Lima, Antonio Nunes, Bebé de Natércio, Bira Delgado, Cabal Abrantes, Cícero (Cicinho), Chico Luís, Ely Cabral, Fátima Lima, Gilmar Leite, Júnior Targino, Léo Brasil, Marcelo Piancó, Manoel Carlos, Marcelo Maia, Merlânio Maia, Melchior Sezefredo, Meire Lima, Nelson Nunes, Pedro Fernandes, Ramon Parente, Roberto Cajá, Taymara Marques, e outros não menos impregnados de poesias, encabeçam uma vasta lista de poetas, cantores e compositores, que, numa continuidade temática demonstram que nesse ambiente a poesia continua teimosamente viva, persistente e com entusiasmo irrefreável.
No palco dessa Tenda da Poesia e através de seu violão, Bebé de Natércio expõe suas composições, e se revela mestre em entender o segredo de um peito ardido, cujas interpretações sempre ficam a cargo de uma cantora convidada, a exemplo de Meire Lima e Taymara Marques. Nesse mesmo palco, o poeta fez sua reforma coronária ao transferir para o seu filho Chico Luís de 12 anos de idade a sua aorta musical.
Sem olvidar das declamações rotineiras ou sabadeiras dos poetas Gilmar Leite, Merlânio Maia, Nelson Nunes, Pedro Fernandes, Ramon Parente e outros mais.
Embora o autoral seja o maior compromisso do ambiente, há exceções bem vindas, a exemplo das canjas dadas por Adailton Franca mostrando que o boêmio voltou novamente para abraçar a deusa do asfalto, embora seja um amor inatingível, e Manoel Carlos com sua peculiar expressão corporal, cantando os anos 60.
Dentre os eventos ali existentes, destacamos as homenagens a poetas vivos e aos que já foram para o oriente eterno, sendo Augusto dos Anjos o primeiro premiado, e como poeta vivo, a justa homenagem foi para o poeta Daudeth Bandeira, que não me parece exagero afirmar que este certamente, está entre os maiorais da poesia popular.
É de fato um projeto cultural, que na citação de Luiz Berto Filho, é inspirado no que acontece no Mercado da Madalena, em Recife, local onde os poetas daqui, certa vez, e de forma itinerante, se uniram aos poetas de lá, onde celebraram um grande encontro.
Salve o Quiosque da poesia, um sindicato de sócios da mesma dor; um atlântico de extremos, sem naufrágio, só calmaria e poesia nas tardes de sábado, até que no chegar da noite, como diria o poeta Hildeberto Barbosa, os poetas se encontram em pleno desequilíbrio do ser, ou parafraseando Olavo Bilac: quando o horário noturno já se mostra, os poetas já não podem mais contar tantas estrelas.
João Pessoa, Fevereiro de 2018.