Você pode até me chamar de ateu, acusar de herege, mas com meu corpo fechado nem ligo pra maledicência alheia.
O que não nego é que não sou devoto de santo nenhum.
Não tenho um beatificado pra chamar de meu protetor.
Não carrego espada de São Jorge, nem fico sob o manto de Nossa Senhora , quiçá me debando até o Juazeiro para venerar a estátua do Padim Ciço!
Perdão se decepciono esse povo de fé inabalável.
Acho até bonito quem se liga tão transcendentalmente com seres celestiais.
Uma galera escolhida, que fala a língua dos anjos…
Agora o que não engulo mesmo é esse charlatão aí do Patrick.
Não aquele amigo do Bob Esponja, mas um senhor irlandês.
Reza a lenda que trata-se de um ruivo secular que de repente resolveu pagar de Baco aqui pela Terra Brasilis.
Veja vocês… de repente, “do nada do nadão”, é Festival St. Patrick pra todo lado e todos os gostos.
Sei lá, como um navio pirata britânico emergindo, sorrateiramente.
Um Jack Sparrow salteador avançando sobre outras terras.
Cerveja e adereços verdes.
A parte etílica muito me agrada.
Afinal, cerveja é bom e a gente gosta, lá na Irlanda, ou aqui, hoje ou no tempo desse tal Patrício aí.
O que não embarco é nesse imperialismo cultural anglo-saxônico sem pé nem cabeça.
Irlanda? Que danado temos a ver com essa terra do povo de cabelo e pentelho vermelho?
-Ah, mas você gosta do U2!!
-“I Will follow”
E nem falo dos simbolismos culturais made in USA.
Ali, pro bem e pro mal, gostemos, ou não, é fenômeno exportador de tendências em escala global.
O imperialismo Yankee já nos empurrou goela abaixo o tal de Halloween– dia das bruxas, até futebol americano se joga na praia aqui.
Coisa de brasileiro.
A gente já meteu purê, ate carne moída, no cachorro quente.
Quem dirá colocar bola oval no buraco da areia?!?!
“Lá ele”.
Bagunçar os elementos é o que vale.
Voltando ao tal Patriquinho meio bretão…
Na real é fácil supor que essa “festa estranha com gente esquisita” chegou aqui via EUA também, afinal já é tradição há tempos nos países de língua inglesa em geral.
Daí para nossas franquias de cursos de línguas e habituès de Miami e afins espalharem na high society brazuca foi um pulo!
Mais impressionante, aliás paradoxal, é a reflexão a seguir: foi o tal imperialismo do Tio Sam que transformou em “comida de PF brasileira” o Yakisoba, ou Chop Suey chinês, por exemplo.
Quem diria, mas a febre culinária da China no Brasil, jamais seria possível sem exportação americana.
“China in Boooox!”
Assim como o sushi e seu campeão de vendas aqui mergulhado no cream chease, flambados e batizados de Califórnia, Philadelfia, Hot Roll etc.
E esse converseiro todo me deu sede.
Passa minha cerveja pra cá e vamos celebrar esse Sr. Patrick aí.
Haja fé no lúpulo.