No Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), uma das reservas ecológicas da cidade de João Pessoa, os animais de vida livre são atração à parte para os visitantes. Dezenas deles habitam uma área de 26,8 hectares de reserva natural – resquício de Mata Atlântica, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) desde a década de 80.
Caminhando nas trilhas, os visitantes devem ficar atentos para ver esses animais entre a vegetação ou no alto das árvores. São saguis, cutias, bichos-preguiça, calangos, cobras, timbus, jacarés e diversos pássaros, sem contar com o universo de animais de pequeno porte, como aranhas, borboletas, besouros, anfíbios e répteis. Espécies nativas que fazem parte da fauna brasileira.
Os especialistas do parque recomendam não tentar contato direto, mesmo com o bicho preguiça, que embora tenha uma aparência dócil, possui garras que podem machucar aqueles que tentarem tocá-los, sem contar com a possibilidade de transmissão de zoonoses – que são as doenças transmitidas entre animais e humanos.
Samuel Fonseca, educador ambiental da Bica, usa o exemplo do sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) para explicar a transmissão da zoonoses. Segundo ele, o animal pode transmitir raiva aos humanos. Por outro lado, a herpes vírus, comum a grande parte da população, pode ser transmitida aos primatas. “Para a maioria das pessoas não é algo muito grave, mas para os saguis é uma doença extremamente prejudicial, sujeito a evoluir para o óbito”, explicou. Sendo assim, quando mordemos um alimento e oferecemos ao animal, há grandes chances de ocorrer uma contaminação.
Os visitantes devem ficar atentos às placas espalhadas estrategicamente pelo parque, orientando a não alimentar os animais. Parte deles se acostuma com a presença de seres humanos e muitos visitantes se encantam, aproximam e oferecem alimentos. Contudo, essa prática é desencorajada por Cíntia Cleub, zootecnista da Bica.
Segundo ela, grande parte dos alimentos oferecidos são industrializados, ou seja, ricos em gordura, sal, açúcar e corantes. “Esta prática é prejudicial porque o animal pode se tornar dependente, tanto de comida urbana quanto de ser alimentado, além de que certos alimentos podem causar intoxicação e até a morte do animal”, afirmou.
A zootecnista explicou, ainda, que “na mata, os animais conseguem se alimentar e não têm necessidade de um alimento ‘extra’, mesmo durante o período de escassez, quando a quantidade de frutos é reduzida”. Ela citou como exemplo os saguis. “Eles se alimentam principalmente de uma goma extraída das árvores e insetos”, complementou.
Descarte de resíduos – A alimentação desses animais de vida livre também pode ser prejudicada pelo descarte inadequado de resíduos feito pelos visitantes nas áreas do parque. É que eles acabam se alimentando das sobras encontradas nas embalagens e podem também ingerir partes delas, o que pode adoecê-los ou causar a sua morte.
Espécies ameaçadas – O Parque Arruda Câmara também é importante para preservação de espécies ameaçadas. O educador Samuel Fonsêca fez, recentemente, o primeiro registro de um Falcão Relógio (Micrastur semitorquatus) na Bica. “Também registrei uma espécie de borboleta de um gênero que tem várias espécies ameaçadas (Parides zacynthus)”. Ele citou, ainda, o jacaré-coroa (Paleosuchus palpebrosus), que se beneficia da grande quantidade de nascentes que existem dentro do território da Bica.
Samuel ressalta que a base da educação ambiental é falar sobre a importância da natureza e as diversas formas de como podemos preservá-la. “Relacionando isso aos animais de vida livre, sempre falamos para os visitantes que todos eles estão vindo para a casa desses animais e não o contrário. É preciso respeito! Não é para correr atrás desses animais, já que isso vai estressar bastante o bicho. Não é para ficar gritando dentro da mata, já que muitos desses animais têm uma audição bastante desenvolvida, e também falamos da possibilidade de transmissão de doenças”, observou.
Preservação – A importância dos animais de vida livre vai muito além de proporcionar divertir os visitantes. A bióloga Helze Lins explica que a presença deles na mata é essencial para a renovação do ecossistema, principalmente para a dispersão de sementes. “Podemos citar, como exemplo, a cutia, que é um roedor que come pequenos frutos e sementes que caem no chão. No período de chuva, como agora, ocorre a queda de frutos e aqueles que a cutia não consegue comer, ela enterra. No período de seca, ela se alimenta dos frutos enterrados. Parte dessas sementes e frutas germina e dá origem a novas plantas”, explicou.
A Bica abriga, ainda, animais que estão de passagem e apenas ‘se hospedam’. É o caso de aves migratórias, que usam a reserva para procriação, quando constroem seus ninhos principalmente na primavera. As garças (Ardea Alba), por exemplo, visitam a Bica em vários períodos do ano. “Reservas ecológicas como a Bica são importantes para a preservação dessas espécies nativas, pois servem de abrigo e para fornecer alimentação. Enfim, é o refúgio das diversas espécies que compõem a fauna de vida livre”, ressaltou Helze Lins.
Parque – A Bica é um posto avançado da reserva da biosfera da Mata Atlântica. Uma área de proteção ambiental conhecida pela harmonia entre o verde e o urbano, um dos locais mais agradáveis da cidade. Abriga fauna e flora diversificadas, incluindo espécies ameaçadas de extinção. “É um espaço privilegiado na área central da cidade, à disposição para visitação pública. Isso também gera responsabilidade para a população em preservar o espaço para as próximas gerações, não alimentando os animais, além de não incomodá-los ou maltratá-los”, reforçou Thiago Nery, chefe do Zoológico.
A reserva ecológica oferece várias opções de lazer e atende a duas funções: ecológica, que caracteriza o jardim botânico, com sua flora diversificada, com árvores seculares, plantas ornamentais e medicinais, além do orquidário; a de zoológico, onde abriga diversas espécies animais nativos e exóticos, como aves, répteis, peixes e mamíferos, entre eles espécies avaliadas como ameaçadas de extinção.
A Bica conta também com playground, trenzinho, quiosque, lago com pedalinhos, áreas para piquenique, além de estacionamento de veículos.
O nome dado ao Parque homenageou o botânico paraibano Manoel Arruda Câmara. Mas o espaço é conhecido popularmente como Bica, em virtude de uma fonte natural de água.
Serviço:
Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica)
Endereço: Av. Gouveia Nóbrega, s/n – Baixo Roger
Horário de funcionamento: terça a domingo, das 8h às 17h (bilheteria até 16h).
Entrada: R$ 2,00 (gratuita para crianças de até 7 anos e idosos acima de 65 anos)
Telefones: 3218- 9710 (administração) e 3218-9817 (Educação Ambiental)