A guerra de narrativas em torno da manifestação deste domingo contra Bolsonaro escancaram o que, na prática, é o maior desafio das oposições ao atual projeto que comanda o país.
O bolsonarismo consegue se corroer em suas próprias estruturas ocas de conceito e forma.
Mas as oposições convivem com a incapacidade de aglutinar tantos antagonismos ideológicos em um bloco, mesmo temporário e com objetivo comum. É um entrave natural.
Vejam bem, não estou fazendo coro a quem assertivamente diz que todos deveriam estar nas ruas “juntos & misturados”.
Por outro lado também não estou dizendo que o correto é, como se configura, “cada um no seu quadrado” e ponto.
Só quero compartilhar os dilemas para ver se algo se esclarece, ou não, né Caê?
O MBL, Vem Pra Rua, Livres, Mamãe Falei, “Papai me empresta o carro” (ops) e toda essa gente que até ontem era tudo aquilo que agora não quer ser mais, alega que o fundamental, o ponto central é “Fora Bolsonaro”.
De fato, nenhuma pauta é mais urgente do que apear do poder esse projeto de desconstrução total e ameaça democrática.
Ao grupo se somou ainda o PDT, de Ciro Gomes, a tal terceira via mais encorpada. Se é que podemos tratar 6% de intenções de voto, como algo de musculatura tonificada, ainda.
Ciro, com inegável capacidade intelectual, conhecimento do sistema, programa de governo muito bem delineado e um discurso pronto, pautado em ataques a Bolsonaro e Lula, os quais o pedetista coloca quase no mesmo patamar, nos últimos tempos. Nessa perspectiva bem alinhado ao MBL, aquele do “Nem Bolsonaro, nem Lula”.
Ciro, dias antes do evento declarou que “estará em qualquer manifestação e todos os palanques contra Bolsonaro!” Bem, Ciro, aquele mesmo que sequer manifestou voto no segundo turno de 2018. Até hoje, o momento prático de maior relevância que uma ação dele poderia ter tido. E ele se omitiu, infelizmente.
Do outro lado do front…
Epa, não, calma aí.
Na manifestação pelo “Fora Bolsonaro”, tivemos ainda o governador de Sâo Paulo, contrariando, inclusive o seu “conselho de inteligência” e cúpula tucana. O “Bolsodória”, digo Dória, nos brindou com uma dancinha no nível ACM Neto. Um espetáculo grotesco até para aquele quadro “Dança dos Famosos” que o Huck “roubou” do Faustão…
O DEM, por sinal não foi. Nada de novo. Apesar do evento ser comandado por um novo membro da legenda, Kim Kataguiry. O partido comandado pelo Toinho de vô, finge ser democrático até no nome, mas se encanga no governo Bolsonaro de corpo e alma e, reza a lenda, vai até se fundir com o PSL, legenda que elegeu Bolsonaro e tem em seus quadros várias figuras com o mesmo modus operandi do pai dos meninos numerais, se é que me entendem.
E por falar nesse povo que gosta de estar “pongado” no poder. Até faixa “Volta Temer” rolou. Foi o máximo que se viu de menção ao partido do Vampirão pela Paulista. Mas eu, sendo Bolsonaro, colocava as barbas de molho, digo o alho, com esse xâmego com o temeroso. De retirar presidente na rasteira e rejeição Temer entende bem.
Sigamos…
Ilustrado todo este cenário das ruas do 12 de setembro, agora sim, vamos para o outro lado da trincheira…
O alvo das críticas, claro, é o PT e seu cinturão de apoio (PSOL, CUT, MST etc).
“Os petistas são aqueles que alegam não comparecer ao evento por conta dos organizadores, golpistas, mas estão sempre rodeados de Renans, Eunícios etc e tal.”
Esta é apenas uma das tréplicas dos participantes do ato a réplica petista.
Mas, alto lá. No caso, não podemos esquecer que quando tratamos do MBL, Kataguiry, Holliday e asseclas, não estamos falando de meros golpistas, se é que existe esse eufemismo!
Aos jovens libertadores nacionais cabe muito mais do que a mera culpa de atuação no golpe contra a presidenta Dilma Roussef. Estamos falando dos artífices principais, à época, pela disseminação de fake news e ataques agressivos, hostis, desumanos a figura da presidenta.
O MBL é o pai da notícia falsa sincronizada, articulada, sistematizada no Brasil. Foram eles quem promoveram as bases para o trabalho do gabinete do ódio de Carluxo hoje.
Esse mesmo grupo é o que promoveu ataques a curadoria de exposições culturais, causando, inclusive cancelamento dos mesmos. Invadiram escolas também contra professores. O Artur mamãe falei foi aquele a ironizar a morte de Mariele Franco posando ao lado do Eduardo Bolsonaro com metralhadora em punho.
Para finalizar, o MBL de hoje, que tenta se reinventar, mas esvaziou porque a radical direita ficou com Bolsonaro, ainda estampa como principal slogan: “Nem Lula, nem Bolsonaro”. O lema, mesmo com promessa de trégua anterior, Inclusive foi recitado em mil decibéis pelo líder Fernando Holliday, aquele negro negacionista da mesma escola de Sérgio Camargo, da Fundação Palmares.
Difícil esquecer daquele meme famoso: “nunca esqueça que o MBL é o bolsonarismo… a única diferença agora é que é o bolsonarismo sem o Bolsonaro!”
E você acha razoável, quer exigir que o Partido dos Trabalhadores vá fazer volume em uma agenda contra ele próprio, quando ataca diretamente o seu principal líder e o coloca no mesmo lugar do principal alvo a que a manifestação se dirige??
Por outro lado, amiguinhos petistas, comemorar, vibrar entusiasticamente pelo fracasso de uma manifestação contra Bolsonaro, feita por quem quer que seja, é de uma desinteligência atroz!
Ok, pela parte que os ataques a Lula te ofendem, “sorriam por dentro”. Cabe ter elegância até para espezinhar.
Em tempo, como diz o filho de Dona Canô, “eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem…”
Mas, apresentada as armas de cada um, espero que se encontre algum ponto de intersecção pela causa maior e mais urgente do “Fora Bolsonaro”.