Nunca gostei de generalizações. Absolutismos, mais do que tenderem a ser burros, são inverídicos. Não representam uma totalidade. Nada contempla o todo.
Assim, não poderia jamais cravar que, sem exceção, todo catarinense é racista, óbvio!
Por outro lado, me incomoda muito o receio, o medo de tocar em alguns temas melindrosos, suscitar debates sobre ocorrências que saltam aos olhos, apenas para não soar politicamente incorreto.
Nem ao céu, nem a terra…
Fato é que, nenhum estado brasileiro registra tantos, recorrentes e absurdos casos de racismo, injúria racial, ou o eufemismo legal que queiram dar, como Santa Catarina.
Quase diariamente irrompe uma aberração proferida, ou cometida por algum habitante daquelas paragens.
Se não posso, ou devo generalizar, não me furto a dizer que há algo endêmico na cultura catarinense. Uma praga preconceituosa que encontra terreno propício a se alastrar.
O derradeiro episódio de racismo, registrado até o presente momento, foi neste último final de semana, contra o jogador de futebol Celsinho, na cidade de Brusque.
Um dos três, quatro, cinco casos de racismo em solo catarinense, que ganharam repercussão nacional, apenas nestes últimos dias.
É lá o território da suástica no fundo da piscina, flagrada, há alguns anos, por imagem aérea da polícia e que chocou o mundo.
E, convenhamos, nada disso é por acaso.
Santa Catarina possui quase uma centena de células neonazistas, quase ¼ das identificadas no Brasil. Proporcionalmente, é disparado o estado com mais núcleos radicais, em números absolutos perde apenas para São Paulo, o estado mais populoso do país.
Os dados são da antropóloga, Adriana Dias, que atribui claramente a uma construção identitária pautada na branquitude e que aniquilou a diversidade.
Em meio ao imponente parque industrial frigorífico catarinense irrompe uma fábrica de nazifascistas.
Nem autoridades escapam. Ana Lúcia, a primeira negra eleita para a Câmara Municipal de Joinvile, cidade mais populosa de Santa Catarina, foi alvo de ameaça de morte nas redes sociais e ataques explícitos na imprensa.
A atual vice-governadora, Daniela Reinehr, é filha de um declarado hitlerista. O pai dela, que nem me dou ao trabalho de digitar o nome, era um convicto admirador do regime alemão, negador do holocausto e colaborador ativo de editora que negava crimes nazistas.
Mas, para não ser injusto, vale frisar que, após sempre ser acusada de se esquivar de responder acerca das idéias do pai, quando assumiu interinamente o governo catarinense, no ano passado, Daniela publicou artigo na Folha de São Paulo, entitulado: “Não compactuo com o Nazismo”.
Sigamos…
Ah, lembram do caso Celsinho, citado no começo do texto? Para ilustrar de alegoria folclórica a tese, vale lembrar que Brusque, a cidade onde ocorreu o episódio racista, é a terra de Luciano Hang, aquele batizado popularmente de “véio da Havan”, apoiador convicto de Bolsonaro.
É ainda em Santa Catarina, que fica Chapecó, uma das cidades que aderiram sistematicamente ao famigerado “tratamento precoce” encampado pelo chefe da nação.
Lá mesmo, no estado do meio do sul brasileiro, Bolsonaro goza da maior aprovação ao seu governo, possui os melhores índices de intenção de voto para a sua reeleição.
Nada é por acaso.
E para não perder a viagem, meto logo o pé na polêmica Balneário de CamboriúxJoão Pessoa, que tomou conta das redes dia desses…
Quem quiser que ache bom “desbotar” sob a sombra de arranha-céus, cercado por globais no badalado pico catarinense. Vou mergulhar os pés na Praia do Cabo Branco, onde vejo o sol nascer primeiro e, melhor, lá ele permanecer, solar, pleno, até se pôr soberano, enquanto avisto o horizonte em contemplação a mãe África.