Deitados, enrolados para dormir, Ben me perguntava se a gente estava no ano “Dois, duzentos mil”.
Eu disse que o ano era 2021.
Daí comecei a derivar e falei que ele nasceu em 2016.
Ele, com cara de “uau”, esperando confirmação, dizia “é muito, hein pai?”
Como sempre faço ao responder as perguntas “aritméticas” do meu pequeno Pitágoras, digo que todo número para ser considerado muito, ou pouco, depende do referencial, a que estamos comparando, e cito alguns exemplos.
Completo dizendo que o calendário foi criado pelo homem para marcar o tempo, começando no ano um e seguindo como contamos normalmente.
Continuando o diálogo ele pergunta quando o irmão nasceu. Eu falo: -No ano 2000.
Ele diz que queria ser mais velho que o irmão. Pergunto por que.
Ben, resoluto, afirma que se fosse o mais velho, já seria adulto, poderia jogar game e usar celular quando quisesse e começa a ir além, enumerando hábitos do pai:
-Assistir jornal.
Ao que o próprio refuta: -ah não, não, para não ver o chato do Bolsonaro (sic).
Após minha cara de espanto pela sagacidade mirim, seguida por um sorriso de solidariedade paterna, ele continua:
– Ver jogo do Vitória…
Curioso que, neste mesmo domingo, eu assistia (sofria) vendo o Vitória na sala, Ben estava na cozinha, quando de repente, sai o gol, o narrador anuncia: “É do Vitóriaaaaa”.
Ben solta de lá: -Até que enfim (como observador astuto a tudo da casa e dos que a habitam, ele, apenas de ver o sofrimento paterno rodada a rodada já entendeu a dinâmica da coisa).
Coitado do meu filho, nada saudáveis estas referências citadas. Ver o Vitória hoje tem feito mal demais, da outra coisa nem comento!
Apenas isso me daria argumento de sobras para legitimar o quanto é melhor ser criança.
E começo a lembrar das brincadeiras, descompromissos.
No outro extremo aparecem em minha mente responsabilidades, contas…
Beijo meu filho, embalo seu sono e fico eu, insone, a embaralhar números em minha mente.