O senhor Aécio Neves pode até retroagir, tentar disfarçar, desdizer o que disse no verão passado…
Vocês também podem até se intoxicar dessa verborragia insana do Bolsonaro e esquecer a origem disso tudo, mas eu não!
Nem adianta Aécio, ou o presidente do PSDB, Aloysio Nunes, agora virem a público botar panos quentes nas feridas que abriram, tentarem estancar a sangria que irrigaram.
Se opondo a Bolsonaro, ambos correram à imprensa e afirmaram que as eleições de 2014, quando o tucano foi derrotado pela petista Dilma Roussef, não foram fraudadas.
Mas “o que me lasca é minha memória”… Não esqueço, jamais, que foi Aécio, á época, logo após o resultado das eleições de 2014, e nos dias subseqüentes, quem puxou o gatilho contra as estruturas que dão sustentação democrática ao Brasil.
Verbalizou explicitamente suspeitas de irregularidades no pleito. Colocou em xeque o sistema eleitoral brasileiro. Atiçou as massas, inflou seus adeptos.
Quando um candidato, político de carreira, com mandatos eletivos, questiona o próprio sistema, se dispara o sinal de incêncio. Se dissemina a teoria do caos, dos auto-desejos e auto-verdades, do vencer a todo custo.
E Aécio não estava sozinho. Teve a cumplicidade do seu partido, o PSDB, inclusive oficializando a desconfiança com pedido de auditoria, que nada de irregular constatou.
A ala mais radical tucana, “lotada” em São Paulo, foi além e pediu até auditoria internacional.
E não parou por aí… Grande, imensa parte da direita brasileira se uniu em torno deste discurso e fez dele estopim para a cruzada de retirada do PT do poder, usando das armas que fossem necessárias, de expediente qualquer, GOLPE abaixo da linha de cintura.
Até a imprensa, diretamente beneficiada das liberdades democráticas, dentre as quais a Liberdade de Expressão, embarcou, deu vazão a esta irresponsável postura.
O Vale Tudo político tinha um objetivo retirar o PT da presidência e retomar o poder.
Agora o motivo de se tentar minar de vez a democracia brasileira ainda é o mesmo: o poder. E o fantasma também: o PT.
Bolsonaro, um cidadão com vários mandatos parlamentares e uma eleição presidencial conquistada sob sistema de urnas eletrônicas, tem consciência da segurança do método.
Apenas se vale da velha prática incendiária, de confundir, convulsionar a sociedade para se beneficiar deste colapso. Quer apenas tumultuar o processo, inflamar seus militantes a um hipotético caos, ou, mesmo que seja, legitimar a recusa a aceitar uma eventual derrota em 2022 e inviabilizar as normas democráticas.
Não tinha como se esperar outra conduta de um presidente como esse! Nada fora do script.
Mas, repito, não foi o aberrante bolsonarismo quem lançou as bases desta distopia.
Os outros estão por aí, à espreita, disfarçados de democratas equilibrados.
Mas, eu lembro, lembro de tudo, até do que eu não vi.