Nove entre dez brasileiros já devem ter visto, ou ouvido falar do novo trabalho de Anitta.
Se você corresponde a leva do solitário decimal, sinto informar-te que está “out”.
Anitta gravou uma versão pop moderna para a música “Garota de Ipanema”.
Uma aposta bem clichê para consolidar a brasileira no mercado americano e estrangeiro em geral.
“Nada de novo no front”, afinal a original, com todo o respeito aos mestres, à sua maneira, já era uma “música para gringo ver”, assim como a própria Bossa Nova, onde a canção se insere. #Posteiecorri .
Noves fora “barquinho, mar, violão”, vamos voltar a funkeira versão world music…
Independente de minha falta de afinidade com a música de Anitta é inegável seu talento para o universo pop, carisma além fronteiras de estilos musicais e rara capacidade de gestão da própria carreira.
Mas a ânsia por alçar vôos maiores, essa tara tupiniquim de ser “star nos States”, uma coisa Lulu “De repente, Califórnia”, ou Sangalo de “levantar poeira no Madison Square Garden” fala sempre mais alto. Um provincianismo nosso tal qual a fixação por um glamour da neve… Como se a carreira sem o selo de aceitação yankee, o Green card artístico, não tivesse plenitude.
Ok, ok, concordo que o desejo de expansão territorial é legítimo a uma artista mais que consolidada no mercado nacional, quase sem região mais a desbravar aqui, abaixo dos trópicos…
Sei lá, talvez seja apenas busca por mais dinheiro, dólar a seis reais e tal… Quem não gostaria??
Voltando a questões técnicas o videoclipe oficial da rebatizada “Girl From Rio” é uma mistura de elementos do pop tradicional americano com uma versão Anitta Pin Up, “salpicada” de imagens do Rio de Janeiro roots, com a carioca “mergulhada de cabeça” em um domingão no Piscinão de Ramos.
Seria ousado não fosse pastiche! Seria original não fosse a velha fórmula de explorar o natural estranho, com ar popularesco, como exótico, fórmula mais que desgastada na apropriação cultural.
Ainda assim devo dizer que no critério garota de Ipanema, ou do Rio, a versão Anitta tem muito mais da mulher brasileira do que o padrão quase europeu da Hellô Pinheiro, a original.
“Girl from Rio”, a música se vale da desgastada estratégia de basear a batida em uma música clássica, famosa como elemento de aproximação imediata, no caso a universal “Garota de Ipanema”.
Mas bem além desse lugar-comum tão utilizado outrora, a canção de Anitta é um retalho de oportunismos.
Se o visual PinUp do videoclipe oficial com sua mescla de cores suaves e intensas remete diretamente a excentricidade de Katie Perry…
A produção misturando latinidade com “banho de mercadão pop moderno” exala Rihanna e, fuçando, enquanto escrevia esse texto, descubro que os produtores são exatamente os mesmos da Caribenha. Mera coincidência…
Na transição sonora de Jobim para Anitta, os beats sincopados, cadenciados da Bossa Nova original viram um batidão Trap, idêntico aos sucessos estrondosos do canadense Drake, quase um “Papa” do gênero e um dos artistas mais bem sucedidos da música mundial hoje.
Portanto, o som pode até ser envolvente, a produção esmerada e a artista talentosa, mas o produto é mais do mesmo, daquele tipo que nos EUA se produz em escala industrial.
A nova Anitta ativista política me interessa mais…