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AGRESSÕES A CRIANÇAS E A GRANDE MÍDIA – Escreve Demétrius Faustino

Apesar dos pais do menino Henry terem dito que ele sofrera um acidente, vieram suspeitas de que essa versão era falsa, e foram comprovadas através de laudos médicos que apontaram diversas e graves lesões no seu corpo.  Sem esquecer que o Dr. Jairinho (vereador e membro do Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio), ligou para o governador do Rio em exercício pedindo ajuda, no que provavelmente seria para suspender as investigações, além de ter telefonado para um executivo do hospital pedindo que fosse dado um atestado de óbito para evitar que o corpo do menino fosse levado para o IML e examinado de forma minuciosa. Sem olvidar também, que o padrasto já espancou uma criança, quando vivia com outra mulher.

Indubitavelmente, não é possível ficar alheio ao assassinato de um menino de apenas quatro anos, e o que é pior: os maus tratos contínuos antes de sua morte, eram de conhecimento da mãe.

É nessa hora que é necessário indagar acerca da maternidade: porque as mulheres grávidas e nesse estado se sentem mais especiais, meçam barrigas e conhecimento sobre cuidados, falam sem timidez de seus votos para o bebê, e deixam a todos em volta encantados com o poder adquirido pelo fato de estarem gerando uma nova vida, porém, algumas dessas posteriormente, a exemplo da mãe do Henry, admitem essas atitudes tão truculentas?

Vocês conseguem dimensionar o que acontece em nosso corpo quando, por algum mecanismo traumático, ocorrem roturas de parte do fígado, hemorragia interna e lesão cerebral? No caso do menino de 4 anos de idade, Henry Borel, foram exatamente estes os diagnósticos indicados no laudo do Instituto de Medicina Legal do Rio de Janeiro.

O fato é que quando o Henry nasceu, jamais poderia imaginar, tampouco, que os ventos mudariam a sua direção da vida, em razão desses torturadores. A mídia não tem divulgado outra notícia com mais frequência do que esta, é bem verdade, e este é um ponto.

Entretanto, a perplexidade aumenta na medida em que apesar de no Brasil 2.083 crianças de até 4 anos morreram vítimas de agressão nos últimos anos, conforme mostra um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, e que segundo especialistas, a maioria dos casos de agressão é cometida por parentes, a mídia não dá qualquer destaque a esses crimes semelhantes, apesar do Brasil ser líder no ranking de violência contra crianças na América Latina, de acordo com pesquisa realizada pela organização social Visão Mundial. No entanto, a última cobertura da mídia em que uma criança passou por esse terror e sofrimento, foi o caso do casal Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, conhecidos como o “casal Nardoni”, acusados de matar Isabela Nardoni, onde de acordo com o Ministério Público, Jatobá esganou Isabella e Alexandre a jogou pela janela do sexto andar do apartamento onde o casal morava. De lá para cá, já se passaram doze anos.

Essa atitude de irromper a normalidade do cotidiano da cobertura em alguns casos e outros não, embora sejam fatos semelhantes, é o que podemos chamar de espetacularização da mídia ou gagueira programada, no que coloca em xeque a credibilidade da informação da grande mídia.

Aliás, nos parece que o próprio coronavírus incitou a grande mídia a trocar de pele: de proclamador da verdade ela passou a interlocutor das incertezas. E eis que o exercício da “não resposta” se tornou regra.

O que todos queremos é um jornalismo com a postura de não mascarar a realidade, nada de falsas respostas somente para ganhar pontos junto à opinião pública, e que informe tudo o que se passa, a exemplo das 2.083 crianças de até 4 anos que morreram vítimas de agressão nos últimos anos, e não somente os casos do menino Henry e da menina Isabela Nardoni.

João Pessoa, abril de 2021.

 

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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