Uma das máximas mais conhecidas nesta província tupiniquim lambuzada de esculhambação é: “brasileiro tem memória curta”.
“Noves fora” qualquer caráter estigmatizante destes ditados arraigados na sociedade, não dá para tapar os olhos para a sabedoria popular que muitos jargões carregam embutidos em seus sentidos.
Originalmente a falta de memória do brasileiro era atribuída a história do próprio país, mas guardada uma certa distância temporal. Portanto, no conceito do dito popular, referia-se a uma amnésia de períodos mais longos, passado mais longínquo.
“Brasileiro tem memória curta” traduz algo como uma crítica a falta de valorização de grandes personalidades, exaltação de figuras com histórico controverso, ou, fundamentalmente, uma visão distorcida, para mais ou para menos, sobre tempos remotos.
E é sobre esta última interpretação de desprezo aos acontecimentos, que quero falar…
Nós, brasileiros, quer dizer, alguns tipos curiosos nascidos aqui abaixo dos trópicos, resolveram “desmemorializar” até o presente. Ok, ok o termo não existe, mas deixa ele aí para dar a dimensão do absurdo…
A nossa amnésia crônica nos mergulhou em tempos de normatização da mentira na cara dura, ao vivo e à cores!
Deixa eu situar vocês…
Nesta primeira semana pandêmica de abril, o pai da mentira, digo o presidente Jair Bolsonaro, foi a cidade de Chapecó montar seu circo para mais um teatro do absurdo.
Lá, na terra de um dos prefeitos mais bolsonaristas do país, o líder da nação encontrou palanque montado para seu esporte favorito: mentir de maneira contumaz, distorcer fatos, mutilar a história passada e presente.
Lado a lado com o prefeito João Rodrigues, do PSD, Bolsonaro evocou os “feitos” da cidade no combate a Covid-19.
Chapecó, assim como outras cidades situadas no reino da feitiçaria catarinense, é símbolo do “tratamento precoce”, aquele kit maldito de cloroquina, ivermectina e tudo o mais, que o presidente insiste em defender a ferro e fogo e contra todas as orientações de órgãos mundiais de saúde.
Este foi um dos trunfos alegado por Bolsonaro para uma suposta “zerada” na fila de internos nos leitos de UTI da cidade. Outra enorme mentira. Não existe esse oásis chapecoense contra o coronavírus. Pelo contrário, a cidade ainda convive com superlotação e não foi o enganoso tratamento precoce que amenizou o quadro caótico local, mas adivinhem?? Medidas restritivas, um meio lockdown implantado por lá também, que fez reduzir o ritmo de contaminação e consequente ocupação de unidades hospitalares…
Mais que isso, o paraíso chapecoense, tão enaltecido por Bolsonaro e seu séquito, possui média de mortes por Covid-19 superior ao índice nacional.
Quer mais?? Sabe esse Eldorado de saúde anunciado em solo catarinense? Pois é, apenas neste mês de março, lá mesmo de Chapecó, dezenas de pacientes contaminados em estado grave por infecção pelo novo Coronavírus tiveram que ser transferidos em caráter de urgência para o Espírito Santo.
Ou seja, o presidente, o prefeito e todos os lacaios de plantão tiveram a desfaçatez de “dourar a pílula”, mudar a realidade às claras, sem qualquer pudor.
No mês passado, a cidade que se arvora exemplo nacional estava solicitando socorro a outro estado, coirmão federativo. Atendida, pouco mais de um mês depois, “cospe no prato” em público, e tenta ficar com todos os louros da ação. Tudo com a anuência do presidente brasileiro, o maior especialista em criar cisão, dividir, afastar o próprio país que governa.
É Bolsonaro avançando ainda mais na desconstrução da história brasileira. Para os autos isso nada valerá, de fato. Afinal, a verdade é implacável ao tempo e Bolsonaro será desmascarado fatalmente.
O que estarrece é perceber cada vez mais que boa parte dos brasileiros está muito mais à imagem e semelhança de Bolsonaro e do que ele pensa e acredita, do que supusemos, em qualquer época.
O que indigna é perceber o quanto esta patifaria, universo mentiroso, que ocupa o centro do debate nacional, encontra eco nas esquinas do país.
Como genialmente diz os meninos paraibanos da Banda-fôrra “vez ou outra a Fera esquece o que a jaula faz… e fez!”