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O Brasil é um país totalmente meio Free! – Leia Marcos Thomaz

“A partir de amanhã o estado do Piauí passará a contar com Lockdown Parcial” narrava a repórter local no Jornal Hoje, aquele mesmo, tradicional noticiário vespertino da Globo.

Apesar da natural estranheza que a fala causa aos ouvidos, como bom brasileiro, passou longe de me causar espanto.

A incredulidade maior, talvez, e eu disse talvez, resida no fato de tratar-se de um texto jornalístico!

Não basta o modismo nacional de incorporar, integralmente, cada vez mais os termos estrangeiros precisamos embaralhar as línguas e, mais que isso, misturando termos “in engRish” e português, com sentidos  quase antagônicos, entre si.

É o folclórico jeitinho brasileiro na sua versão avacalhadora em modo turbo…

Lockdown é um termo absoluto, fechado, definitivo, sem brechas ou espaço para flexibilização que traduzido, literalmente, significa bloqueio, fechamento, restrição de acesso!

Mas eis que a brasilidade permite manipular o vocábulo ao bel prazer libertino tupiniquim e mete logo um “parcial” na emenda.

“Lockdown parcial”, uma verdadeira delícia tropical.

E, pior, utilizado em caráter técnico da atividade jornalística, na principal e mais assistida emissora do país.

Alô Bonner, quebraram o manual da redação “globolístico”!!

Mas falar em esculhambação os exemplos saltam aos montes neste brasilzão lambuzado de esbórnia.

E olha que nem precisamos nos ater as corruptelas lingüísticas.

Na comilança somos experts em “azedar” a receita alheia.

Brasileiro faz de um cachorro quente, um X-tudo. Tem lugar com purê de batata, aqui nas bandas da Paraíba vai carne moída e há localidade que nem salsicha tem?!?!

O pobre do sushi, iguaria milenar japonesa, aqui ganha adaptação robusta, empanturrada de todo tipo de queijo, mergulhada no óleo, falta apenas colocar barbecue, ou pelo menos nunca vi… ainda…

A nossa pizza é um fenômeno a parte. Centenas de recheios diferentes, alguns tipos com quase esta centena de opções dentro, juntas e misturadas, em uma gororoba gourmet, salpicada de catchup, maionese e mostarda.

E eu? Amo muito tudo isso, não nego as origens.

Mas voltando ao vernáculo, antes que a fome bata e um rodízio destas guloseimas me chame…

Não sou apegado a purismos absolutos, sob risco de confundir bairrismo, com ufanismo. Me perdoe, Ariano, a quem respeito e admiro profundamente.

Mais que isso, compreendo perfeitamente seu papel de bastião de uma bandeira de defesa dos símbolos regionais, mas lamento os que não entendem o radicalismo que o próprio impõs àquela postura para intencionalmente atrair atenção, causar reflexão, valorização do local.

Mas daí até querer incorporar ipsis litteris a condução do líder da resistência regional há uma doce alienação, incautos!

Muito desse discurso radical despreza elementos básicos de troca, dinamismo cultural, que vão além de imperialismo, imposição. Mas vamos deixar estas teses para outra ocasião…

Fato é que estes últimos tempos fariam, se vivo, o gênio de “O Auto da Compadecida” se estribuchar. E nesta medida com total razão.

Além do “Lockdown Parcial” lá do Piauí a pandemia nos importou termos gringos como Take out.

Vejam só, duas palavras, outra língua e sete letras para representar uma de apenas cinco letras e idêntico significado em português: Tirar, ou Retirar.

O termo não sai da boca dos gestores ao anunciarem decretos e profissionais da imprensa.

Se somou ao já normalizado e, porque não, abrasileirado Delivery, que também já tínhamos no léxico (sintam um léxico na caixola) e significa nada mais que entrega

É como eu sempre digo, vamos acanalhar a brasilidade, mas mantendo o mínimo de dignidade, né??

Minha identificação geográfica, quanto à minha naturalidade, nunca foi forçada, baseada em limites e divisas imaginárias estabelecidas por qualquer arranjadinho de poderosos outrora…

Sempre costumei repetir, que “não sou minhoca pra viver enfiado neste negócio de terra”!

Não que isso me retire qualquer senso de pertencimento. Como dizia Raulzito, quando questionado sobre sua baianidade por seu espírito cosmopolita, transgressor e, acima de tudo rockeiro, a resposta era direta: “Sou baiano, oxe!”

A questão é que minha identidade de origem é baseada em simbologias, fatores culturais e não nestas linhas limítrofes entre cidades, estados. Aquele quase condicionamento de acatar tudo e forçar convergência apenas por proximidade.

Minha baianidade está na culinária, linguajar, meu Vitória, cultura em geral etc e coisa e tal.

A essa naturalidade ainda tenho o privilégio de somar um outro “abrigo”, que me acolheu na vida, a boa Paraíba. Aqui misturei as minhas experiências sensoriais, primárias e secundárias, terciárias… inclusive  tenho mais tempo de vida aqui “em riba” do que na “boa terra”.

Assim encho a boca para dizer que sinto-me “Paraibaiano” até o talo!

Mas esse arrudeio todo é só para dizer que, com todas as minhas marcas locais, não sou adepto do purismo regionalista, ou mesmo nacionalista.

Respeito e admiro profundamente o mestre Ariano, mais ainda, Mas como estabelecer padrão, limite a isso em relação a cultura, por exemplo?

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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