Contra todos os prognósticos, eu sempre apostei que Bolsonaro não terminaria o mandato!
Longe de qualquer exercício ou pretensão no ramo da futurologia meu palpite era baseado em uma única percepção: a total inaptidão do cidadão para síndico de condomínio, o que dirá de presidente da República, então??
E olha que eu nunca, jamais suporia algo perto do festival de absurdos proporcionados pelo Jair no poder! Imaginava uma mudança de postura, pelo menos para disfarçar a mediocridade que rodeia suas ações historicamente como político. Aquela velha armadura de estadista. Ledo engano…
Mas eis que mesmo com todo escancaramento da vileza, torpeza do que representas, o presidente continuava e continua a gozar de popularidade bem mais digna do que qualquer merecimento próprio. E admito, isso, em determinado momento, fez balançar a minha crença na ruína do ocupante do Palácio do Planalto.
Pois bem, essa obtusidade nacional resistiu até agora. Mas não vira o calendário de 2021. Alto lá, ainda, ainda não estou renovando pitaco sobre a queda do Messias, muito embora isso também possa enfim se concretizar (a queda de popularidade, perda de base de apoio consistente popular é um passo importante para a derrocada de sustentação política. Movimentação pró impeachment cresce entre parlamentares, mesmo com muito cuidado no trato público do tema. Portanto, “amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”. Vejamos…)
Assim, se o homem realmente “vai, ou fica”, depende de outras variáveis, mas uma coisa posso cravar: o amor nacional por Bolsonaro vai descer a níveis anêmicos!
E isso não se dará pelos pecados até agora, por empatia a todos os diuturnamente atacados pelo presidente, menos ainda por alguma sensibilidade com a dor alheia.
Apenas sentindo na pele a perversidade do instinto sociopata de Bolsonaro milhões de brasileiros serão capazes de abandonar o torpor coletivo, largarão o osso e romperão com essa ignorância mitomaníaca!
E nem estou falando de revelações bombásticas como rachadinha, laranjal, Queiroz, Yussef. Menos ainda tratei de arminha, fake news, agrotóxicos, cartão corporativo milionário, crises diplomáticas, queimadas na Amazônia, Pantanal, apagão no Amapá, vergonhas internacionais etc e etc…
Meu apontamento é também muito além do caos sanitário, colapso de saúde, do cenário de guerra e abandono de Manaus (que poderá se replicar em outros centros), da total desimportância dada a vacinação, da curandeirice em torno de remédios inúteis para um tal tratamento precoce ao coronavírus.
Estou falando é do bolso do povo!
O aterramento de Bolsonaro virá exatamente de uma de suas grandes bandeiras junto aos isentões liberais brasileiros: a economia, que independente da pandemia e seus impactos negativos, já não conseguia dar sinais concretos e a longo prazo de recuperação sólida.
Gasolina a quase 5 reais, dólar com maior valor da história junto a nossa combalida moeda.
Gás de cozinha a quase 100 reais. Arroz a seis reais. Feijão a nove bozos. Ir ao mercado se transformou uma experiência traumática para os brasileiros.
Isso sem falar na expectativa de 9 entre cada 10 especialistas de retorno a índices de pobreza comuns apenas nos distantes anos 80 e sua hiperinflação.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas aponta que a partir de fevereiro quase 25% da população brasileira viverá com menos de 350 reais por mês, o que equivale a 1/3 de um salário mínimo.
Para se ter uma noção do que representa isso é um valor menor do que o suficiente para comprar uma cesta básica, que está custando quase 500 reais.
“Ah, mas esse povo sofre e a classe média brasileira nem olha. São invisíveis a maior parcela da população!”
Ok, ok. Tem razão na assertiva. O brasileiro médio passa longe de nutrir qualquer empatia pelo irmão ao lado. A não ser nas ações da Igreja, Clube Social, Associação de qualquer coisa para manter o status social e limpar a consciência.
Mas ninguém passará impune ao desgoverno Bolsonaro, infelizmente…
Em níveis de pobreza assim, o efeito cascata não poupará brasileiro, seja de que classe social for.
Criminalidade virá a reboque, falta de investimento em setores básicos afetarão serviços essenciais como educação, saúde etc.
O remédio (que não é a cloroquina) para o brasileiro despertar será muito amargo e, talvez, administrado tarde demais…