Já manifestei aqui o quão indignado me deixa a ignorância geográfica do sulista-sudestino médio em relação ao próprio país em que vivem.
O pior de tudo é que essa desinformação em muitos casos passa longe de qualquer falta de acesso a educação. Ela é intencional, deliberada. Praticada por aqueles que sofrem da síndrome de “Eurocentrismo Tupiniquim”. Uns tipos brasileiros que consideram sua origem, ou apenas base fixa atual (as regiões Sul-Sudeste) como o “umbigo do universo”, mesmo que esse “buraco” seja apenas uma depressão brasileira. Não podia perder o trocadilho, perdão…
Para conferir o que digo basta se atentar às referências que, no senso comum, alguns moradores do “eldorado brasileiro” fazem sobre o “resto” do Brasil: da “Boa Terra” para cima é tudo uma grande Bahia, imagina-se em São Paulo. O Nordeste todo é habitado por paraibanos, diz-se no Rio de Janeiro. E a média geral da “casta superior” sequer sabe diferenciar onde termina o Nordeste e começa o Norte. É uma legião de “nortistas”, única, indivisível, indiferenciável. Um verdadeiro atentado ao Atlas.
O último bom, digo péssimo, exemplo disso veio de uma figura, que para o bem e para o mal, já representou todo o Brasil. O técnico Felipão, aquele mesmo da glória do penta e do vexame do 7×1. Você pode nem gostar de futebol, menos ainda da CBF, mas não deixa de ser uma representação nacional!?!
O atual técnico do Cruzeiro, usando da habitual queixa da arbitragem para justificar os fracassos dos times comandados por ele, usou a seguinte frase: “vai jogar um time de Sergipe e vem gente do Pará apitar??”
Até o absurdo de Edmundo, lá em 1997, foi menor que esse. À época, o ídolo do Vasco, em jogo contra o América-RN, em Natal, declarou: “a gente vem na Paraíba e colocam um Paraíba pra apitar??”. O árbitro era o cearense, Dacildo Mourão. Sem relativismo, mas no caso em questão os 3 estados eram limítrofes…
Já voltando a Felipão… suponho ter ficado difícil entender, afinal, Sergipe? Pará? Aqueles estados vizinhos, lado a lado… situados em regiões diferentes separados apenas por uns 4 outros estados e distantes nada menos que 2 mil quilômetros um do outro!!
Sim, o renomado técnico, nascido no Sul brasileiro e consagrado entre gigantes do futebol nacional, sediados do Rio Grande do Sul a São Paulo, quis insinuar que o árbitro paraense iria beneficiar o Confiança, de Sergipe, devido aos laços geográficos!
A que isso remete?? Aquele conceito que, da Bahia pra cima é tudo “um Norte só”. Mas até aí poderia-se evidenciar apenas a ignorância crônica do senhor. A questão é que as falas (incluindo a de Edmundo) são eivadas de toda sorte de desprezo, tão comum a figuras tipo o consagrado técnico da “Família Scolari”. O Felipão acostumado a vociferar, ofender, quando não agredir mesmo adversários, que enche a boca para falar de rigidez moral, patriotismo etc e tal, mas usa de todo artifício para vencer (legais, ou não, imorais ou amorais). Isso logo me lembra o povo de bem, defensor da família e toda essa cartilha canalha já conhecida.
Você pode achar apenas um deslize, querer minimizar o fato, mas não é! Menos ainda me incomoda a provável acusação de vitimismo. Nem sofro disso, mas sei identificar e reagir à comum prática preconceituosa entranhada na cultura regional do Brasil. E isso é patético vindo do senhor Felipão, ou de qualquer outro pretenso herdeiro da família de Orleans e Bragança.