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UM NORDESTE DE OXE, EITA, VIXE!! – Pelo texto de Marcos Thomaz

A palavra tem poder!

Calma incautos, não vou começar nenhuma homília, ou pregação pentecostal de mei de praça.

Podem fazê-lo, mas não aqui nesta paróquia infame e profana!

Referia-me a força da palavra popular, dos regionalismos lingüísticos, termos característicos de cada localidade, aquelas ressignificações que o “verbo” adquire a depender da latitude e longitude em que está sendo aplicado!

A fala de cada região simboliza muito de sua história e povo.

Eu, menino do interior baiano, ózado, cheio de inxerimento, logo na minha chegada a Paraíba, fui atraído magneticamente por estas características da oralidade local.

Nem adianta o desavisado sulista (sim, se da Bahia pra cima se diz que é Norte, pra baixo é tudo sul) logo se ouriçar e com sarcasmo afirmar: “ué, mas o Nordeste não é tudo a mesma coisa?? Não vejo diferença entre sotaque e modo de falar da Bahia até o Pará!”

Claro cara pálida, o famoso tabacudo em Recife… e aqui me dirijo aquele perfil alienado, baseado no provinciano “eurocentrismo tupiniquim”. A turma que acha que São Paulo e redondezas são o centro do universo, mesmo que o tal universo seja esse microcosmo esculhambado aqui abaixo do Equador, e não sabe sequer que João Pessoa é capital da Paraíba e não de Pernambuco. Sim, reiteradas vezes tenho que explicar isso a moça do telemarketing, que em meio a meus protestos insiste em chamar-me: “senhorrrrrrrr, senhorrrrrr” TUTUTUTUTUTU.

Uma maldição duzinferno, mas esse povo parece se fazer de mouco.

Seguindo altivo as provocações bairristas reconheço que formamos um grande, lindo e homogêneo Nordeste em muitos aspectos, incluindo a fala. Voltando a minha lúdica infância na Bahia, por exemplo, lembro que fui alfabetizado “à moda sertaneja” como ilustra “o velho Lua”, o rei Luiz Gonzaga, na imagética O ABC do sertão:” lá no meu sertão pro caboco lê, tem que aprender um novo ABC, o jota é ji…”

Fui interrompido bruscamente por minha memória a me reavivar que já narrei isso aqui anteriormente. Perdão, é a potência da lembrança afetiva que me empolga. Fato é que o exemplo reforça a unidade nordestina via cultura do sertão que nos unifica. Vejam bem, sou de Buerarema, a minha Macondo, pequeno e aconchegante lugarejo, que antes da emancipação era simplesmente Macuco, ali dejunto de Itabuna, que por sua vez é dejunto de Ilhéus, essa mágica região do sulbaiano que tem deumtudo no quesito cacau e praia e quase nada a mais e jamais por isso deixará de ser um paraíso, mesmo que às avessas…

Pois bem “o meu sul” fica a algumas centenas de quilômetros do primeiro solo sertanejo mais próximo e, em contraponto, está mais perto da primeira porta sudestina, o Espírito Santo, mas nem isso é capaz de arrefecer a força da ancestralidade do Nordeste.

Mas que danado estou querendo com essa cantilena, contando marmota, estruindo (um dos termos mais fenomenais que a Paraíba me ensinou!) palavras ao vento??

Afinal eu apenas queria rememorar minha afeição a nordestinidade também pela fala. Esse dizer gostoso, rítmico, arretado, arrastado, quase indolente. Só me deixa retado, virado na porra ser chamado de boy. Aí não. E nem é pelo estrangeirismo, que não preciso desses purismos tolos para reafirmar minha identidade. Fico injuriado mesmo é com a carga de desprezo, redução a infantilidade que o termo carrega e aqui, na boa Paraíba, utilizam a esmo, mesmo que você tenha 40 anos. Respeite minha barba e meus já amontoados cabelos brancos, sua quizila!

Fora isso e até por esse paradoxo de coisas deliciosas e insossas, ao mesmo tempo, meu Nordeste é massa!

Fábio Augusto
Fábio Augustohttps://pautapb.com.br
Formado pela Universidade Federal da Paraíba em Comunicação Social, atua desde 2007 no jornalismo político. Passou pelas TVs Arapuan, Correio e Miramar, Rede Paraíba de Comunicação (101 FM), pelas Rádios 101 FM, Miramar FM, Sucesso FM, Campina FM e Arapuan FM.

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