“Comecei a fumar ainda na adolescência, com 14 anos, numa aposta entre amigos e continuei por muitos anos. Chegou a um ponto que já não estava dando conta do vício e o cigarro estava me dominando. Foi aí que resolvi procurar ajuda”. Este relato é do pedreiro José Sérgio Evangelista, que passou 46 anos de sua vida dependente da nicotina. Na rede municipal de Saúde de João Pessoa, o Programa de Tabagismo já auxiliou quase 1,2 mil pessoas a pararem de fumar.
Nesta sexta-feira (31) é celebrado o Dia Mundial Sem Tabaco a data chama atenção para os prejuízos que o cigarro traz à saúde dos dependentes da nicotina. José Evangelista está há dois meses sem fazer uso do cigarro e é um dos usuários do Programa. Para a assistência dos usuários, a iniciativa conta com uma equipe multiprofissional formada por psicólogo, médico, enfermeiro, nutricionista e assistente social.
De acordo com uma das psicólogas do programa, Eliane Rafael, o tratamento tem duração média de um ano e é composto pelo processo terapêutico, com a abordagem cognitiva comportamental (suporte psicológico), e o auxílio médico, que compreende avaliação clínica e uso de medicamentos como adesivo transdérmico de nicotina, goma de mascar, pastilhas de nicotina e comprimidos.
“O suporte psicológico acontece de duas formas, pode ser individual ou em grupo, através do grupo de apoio terapêutico. São sessões estruturadas, que equivalem ao período de preparação e acontece de seis a oito semanas. Depois passamos para as sessões não estruturadas, em que os usuários podem frequentar a cada duas semanas ou mensalmente, dependendo de sua necessidade. Em alguns casos, é necessário o acompanhamento individual, por exemplo, pessoas em depressão ou com ansiedade intensa”, explicou Eliane.
Segundo Niviane Ribeiro, técnica de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), quando uma pessoa decide parar de fumar, já é possível perceber os benefícios nos primeiros momentos. “Ela consegue observar a desintoxicação nos primeiros momentos sem cigarro. Seu corpo começa a processar a mudança e, após 20 minutos, a pressão volta ao normal. Depois de um dia sem fumar, suas chances de ter um ataque cardíaco já diminuem”, afirmou.
“Comecei meu tratamento há seis meses e são muitas dificuldades para conseguir parar de fumar e até mesmo para permanecer longe do vício. Porém, o mais importante é que eu parei e não tenho mais intenção de voltar”, disse José Sérgio Evangelista, que é acompanhado pelo Programa de Tabagismo.
Para o mestre de obras Antônio Fausto dos Santos também não foi fácil largar a dependência à nicotina. Há três anos, ele conheceu o serviço oferecido pela Rede Municipal de Saúde e passou pelo tratamento, mas pouco tempo depois voltou a fumar. “Depois de dois anos fumando novamente, procurei o serviço de novo e já faz mais de um mês que estou sem fumar. Estou determinado a nunca mais comprar uma carteira de cigarros”, disse.
Ele conta que o maior prejuízo do uso do cigarro em sua vida foram os problemas de saúde e, por isso, aconselha as pessoas que também querem parar de fumar. “É importante valorizar o tratamento e fazer um esforço, mesmo que a vontade seja grande. Se a pessoa tiver foco e força de vontade, consegue parar”, concluiu.
Onde encontrar apoio – Para ter acesso ao serviço, qualquer pessoa pode procurar um dos seguintes locais: Policlínica Municipal Cristo, Policlínica Municipal Jaguaribe, Policlínica Municipal Mandacaru, Centro de Atenção Psicossocial David Capistrano (no Rangel) e Unidade de Saúde da Família (USF) do Bessa.
Além do tratamento terapêutico e medicamentoso, os centros de referência realizam, também, trabalhos de prevenção e campanhas informativas em relação ao uso do cigarro. Ainda dentro do programa, os usuários podem participar de atividades em Práticas Integrativas e Complementares, com reiki, auriculoterapia, relaxamento e yoga, também oferecidos nos serviços da rede municipal.
Tabagismo – Reconhecido e tratado como uma doença crônica, o tabagismo é causado pelo excesso de nicotina no organismo. Essa substância, um dos componentes do tabaco, é a responsável por gerar a dependência química. Os principais sintomas da doença são dificuldade de respirar, tosse, irritabilidade, dor de cabeça, insônia, depressão e obesidade.
O tabagismo é, também, fator de risco para problemas cardiovasculares, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico (AVE), infecções respiratórias, aneurisma arterial, complicações na gravidez, cânceres de pulmão, rim, laringe, boca, entre outros.
Dados – Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), diariamente 428 pessoas morrem, no Brasil, em decorrência da dependência à nicotina. A estimativa do Inca é de 31.270 novos casos de câncer de traquéia, brônquio e pulmão no país para o biênio 2018/2019. Na Paraíba, a estimativa é de 370 novos casos também neste período. Desses, 100 casos serão em João Pessoa.
Dia Mundial sem Tabaco – Comemorada no dia 31 de maio, a data foi idealizada em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. A campanha também visa informar as pessoas sobre o que podem fazer para ter uma vida saudável e proteger crianças, adolescentes e jovens das consequências devastadoras do tabagismo.