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Bandeira defendida por Henrique Maroja, deve virar um dos maiores debates na Paraíba

Uma reportagem especial feita pelo site Jornal da Paraíba, trouxe a história de João Pessoa contada e relatada por agentes políticos paraibanos que apontam uma nova ideia para uma possível mudança do nome da Capital. Essa é uma das bandeiras de luta do pré-candidato a deputado estadual, Henrique Maroja (PPS) e defendida pelo cantor, compositor e ex-vereador de João Pessoa, Mestre Fuba.

Em suas redes sociais, Henrique juntamente com o ex-deputado e ex-secretário de Estado, Fabiano Lucena, mostram sempre um pedaço da riquíssima história de João Pessoa e também da Paraíba, que pouca gente conhece. Henrique já deixou claro que uma das suas bandeiras caso chegue ao parlamento estadual, será o da valorização à nossa história, cultura, reconhecimento dos nossos bens arquitetônicos, entre outros.

Abaixo você pode acompanhar toda a reportagem feita pelo Jornal da Paraíba.

 

João Pessoa ou Parahyba? Movimento que defende mudança do nome da capital completa 10 anos

Há exatos 88 anos, um crime mudava a história política do Brasil. Presidente da província da Paraíba, João Pessoa, estava na Confeitaria Glória, em Recife, quando foi morto a tiros pelo advogado João Dantas. O assassinato é apontado por historiadores como o estopim da Revolução de 1930 e alçou o político ao posto de mártir, o que lhe rendeu uma série de homenagens. A maior de todas foi ter seu nome batizando a capital, que deixou de se chamar Parahyba e virou João Pessoa. No entanto, essa honraria póstuma nunca foi uma unanimidade entre os paraibanos e existe um movimento que há exatamente uma década defende que ela seja revista, propondo que a cidade volte a ter a antiga denominação. Os integrantes inclusive acreditam que o tema pode entrar em discussão nas eleições de outubro deste ano.

Criado em fevereiro de 2008, o movimento ‘Paraíba, capital Parahyba’ tem como principal líder o músico e ex-vereador Flávio Eduardo Maroja, muito mais conhecido como Fuba. Segundo ele, as discussões sobre o assunto tiveram início quando, ocupando uma cadeira na Câmara Municipal, teve a ideia de fazer uma cartilha explicando as razões da mudança do nome da capital paraibana para João Pessoa. Na época, Fuba tinha um gabinete que funcionava no coração do Centro Histórico e era um espaço aberto para as mais diferentes correntes artísticas que colaboraram com o debate ao ponto que ele acabou ganhando novos contornos.

“Quando fizemos as primeiras reuniões para o movimento era especifico da cartilha dizendo como foi a mudança. Mas aí acabou que começou a cair documentos na minha mão, comecei a pesquisar os livros que tinham sido queimados [na época da revolução], aí surgiu o meu livro”, ressalta Fuba. O livro citado pelo músico é ‘Parahyba 1930: a verdade omitida’ , lançado por ele em 4 de setembro de 2008, quando se completou 78 anos da troca do nome da cidade, e que acabou substituindo a planejada cartilha. Pode-se dizer que a obra é uma espécie de manifesto do movimento.

Para Fuba, a história da Paraíba tem sido contada de uma forma errada ao longo dos anos. “João Pessoa não foi esse herói que os livros contam não. E não teve revolução, foi um golpe que começou a ditadura no Brasil”, disse. Após a morte de João Pessoa, seus aliados da Aliança Liberal derrubaram do poder o presidente Washington Luís e colocaram Getúlio Vargas na presidência. Getúlio, com João Pessoa como vice, tinha perdido nas urnas para Júlio Prestes.

Filho de Umbuzeiro, ‘presidente’ por dois anos

Voltando um pouco no tempo, antes da tragédia da Confeitaria Glória, é preciso destacar que João Pessoa governou a Paraíba por menos de dois anos. Nascido na cidade de Umbuzeiro, interior do estado, ele fez a vida na cidade de Recife, em Pernambuco. Foi ministro do Supremo Tribunal Militar e acabou assumindo a presidência da província graças à articulação do tio, o ex-presidente da república Epitácio Pessoa.

“Quando veio governar, ele queria arrecadar. De imediato ele criou dois impostos. Primeiro, o imposto de fronteira: toda mercadoria chegava pelo porto de Recife. Depois ele criou o imposto de barreira, que eram porteiras de 20 em 20 km, que você pagava uma taxa por produto que estivesse transportando em cada uma delas. João Pessoa criou o pedágio no Brasil, foi um pioneiro. Essa taxação criou problemas até mesmo com outros membros da família Pessoa, que tinham negócios no interior”, afirma o ex-vereador.

Assassinato e capital com novo nome

No fatídico 26 de julho de 1930, o advogado João Dantas, entrou na Confeitaria Glória, perguntou quem era João Pessoa, se apresentou e na sequência atirou três vezes, matando o presidente da Paraíba. Dantas acabaria morto, ‘suicidado’ na cadeia, pouco tempo depois. Mas o que o motivou?

A história oficial conta que Dantas estava do lado político oposto ao de João Pessoa e foi ‘perseguido’ pelo presidente da Paraíba. O ápice do confronto se deu quando Pessoa mandou a polícia invadir o escritório de Dantas. A foto desse momento, inclusive, ilustra a capa do livro de Fuba. No local havia um cofre que foi arrombado e, nele, foram encontradas cartas de amor escritas pela poetisa Anayde Beiriz, com quem Dantas tinha um relacionamento amoroso.

De posse das cartas, João Pessoa resolveu fazer uma exposição delas na delegacia e ainda anunciou no jornal. O ato gerou a fúria de João Dantas, que acabou resultando no assassinato.

Na leitura de Fuba, o crime não tem nada de político, foi por “lavagem de honra”. Mas os aliados de João Pessoa teriam usado o fato para construírem um mito e, principalmente, tomar o poder. Para o ex-vereador, o principal mentor desse plano foi o jornalista paraibano Assis Chateaubriand.

“Ele (Chateaubriand) pegou, embalsamou o corpo de João Pessoa e saiu de capital em capital fazendo discursos fervorosos, até chegar no Rio de Janeiro, onde foi enterrado. Ele foi fazendo discurso, dizendo que quem tinha mandado matar tinha sido justamente o governo federal, os perrepistas, Washington Luís, Júlio Prestes, João Suassuna”, destaca. “Eles queriam na verdade aplicar um golpe, e foi o que aconteceu”, completa.

A mudança do nome da capital de Parahyba para João Pessoa aconteceu menos de três meses após o assassinato. Com a forte comoção e uma grande pressão popular, os deputados estaduais aprovaram o projeto de lei autorizando a troca no dia 4 de setembro de 1930. Junto com o nome da cidade, também foi trocada a bandeira da Paraíba.

Fuba acha que a mudança afetou a identidade da capital paraibana. “Ao meu ver, você particularizar, botar o nome de uma capital, o nome de um político, é um problema. Ter particularizado uma família no nome de uma cidade e as pessoas não saberem a história!”.

 

Desrespeito com a história

Sobrinho-neto de João Pessoa, ex-vereador e atual secretário de Turismo da cidade, Fernando Milanez afirma que Fuba e o movimento que ele lidera estão desrespeitando a história. “A cidade tem tanto problema para resolver. Vivemos uma crise tão profunda para se discutir mudar o nome da capital. Eu acho ridículo pensar que se pode rasgar a história. Construam o que João Pessoa construiu”, provoca.

Milanez diz que a homenagem é mais do que merecida, pois João Pessoa “mudou a história da nação” como o “comandante” da Revolução de 1930. O ex-vereador não considera um problema a ‘construção’ do mito apontada por Fuba. “Tudo que se constrói é em cima de um mito. Se a Paraíba não tiver João Pessoa como um mito, vai ter quem? Se mudar [o nome], vai mudar pra quê?”

Para cobrar respeito a João Pessoa, o secretário de Turismo faz uma comparação entre o presidente e uma outra figura histórica, totalmente antagônica: Ariano Suassuna. O escritor é filho de João Suassuna, que também foi presidente da província da Paraíba e acabou assassinado na sucessão de acontecimentos após os fatos da Confeitaria Glória. Ariano sempre atribuiu o crime à família Pessoa e aos seus aliados. Nascido na capital paraibana, ele nunca aceitou a mudança do nome da cidade de Parahyba para João Pessoa e pode ser considerado o precursor do movimento que hoje Fuba lidera.

“Agora, eu posso negar a importância de Ariano? Eu vou negar o que Ariano fez? Não vou, eu sei da importância dele para a Paraíba”, afirma Milanez.

Como faz para mudar?

Diferente do que aconteceu na troca de Parahyba para João Pessoa, que aconteceu através de projeto de lei, a legislação atual estabelece que uma nova mudança precisaria passar por uma consulta popular, um plebiscito, que deve ser proposto pela Assembleia Legislativa.

 

O tema nunca foi tratado diretamente pelos deputados. Segundo Fuba, muitos que passaram pela Casa e que ainda estão lá até são favoráveis, mas têm resistência em falar no assunto por conta das críticas e ataques que podem enfrentar. “Quando eu estava publicando o livro, recebi ameaças de morte o tempo inteiro. Era quase todo dia: ‘se o livro sair, eu lhe mato. Eu fui pedir proteção à polícia”, relembra.

No entanto, Fuba disse que essa barreira pode ser quebrada neste ano, pois um pré-candidato a deputado estadual está disposto a levantar essa discussão. “Ele já me disse que se conseguir se eleger, vai ser a bandeira dele. Ele tá entrando na história para isso, para levantar isso”, enfatiza.

Para Fernando Milanez, a realização do plebiscito seria uma oportunidade excelente de encerrar a discussão. “Façam, mas façam um plebiscito sério. Vai ser um massacre!”, diz garantindo que a população não concorda com a troca do nome da capital. “Isso é motivo de piada lá fora. As pessoas questionam se é verdade, se tem gente que ainda quer mudar o nome da cidade”.

O próprio Fuba acha que se o plebiscito fosse feito agora, o nome da cidade não mudaria, pois grande parte das pessoas “não conhece a história”, que precisa ser recontada. “Com o debate ampliado eu acho que é possível [a mudança]. Agora, não é uma coisa feita da noite para o dia não, pode colocar anos de debate, nem os políticos sabem da história. Na Câmara ninguém sabia, ninguém”.

O curioso é que caso a mudança do nome da capital paraibana um dia aconteça, como Fuba deseja, ele vai ter que mexer na sua obra musical. O hino do bloco Muriçocas do Miramar, que começa com ‘João Pessoa sonha’, precisará ser modificado. “Mudaria pouca coisa”, minimiza.

 

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