Nesta quarta-feira (27), o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivos Urbanos de João Pessoa (SINTUR/JP) enviou uma nota à imprensa afirmando que os recentes reajuste de combustível agrava o endividamento do setor de transporte público.
De acordo com o órgão, estudos apontam 45,3% das empresas de ônibus precisaram entrar em um programa de recuperação fiscal e, com isso, a categoria já sinaliza para um possível aumento das passagens para os passageiros da capital paraibana.
O texto aponta que o litro do diesel deve ter um acréscimo de R$ 0,21 por litro o que vai gerar um custo adicional de R$ 336 mil. Outro fator importante para encarecer o preço da passagem é o reajuste dos salários dos motoristas e cobradores 6% para a categoria.
Leia nota na íntegra:
Com o aumento de combustíveis, proposto recentemente pelo Governo Federal, o setor de transporte público viu-se numa situação ainda mais delicada, tendo em vista o agravamento de suas dívidas. Em uma conta rápida, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivos Urbanos de João Pessoa (SINTUR/JP) verificou que o custo operacional, somente no quesito combustível, subirá quatro milhões por ano – considerando o aumento de 0,21 centavos em cada litro de diesel. Mensalmente, os ônibus em João Pessoa consomem cerca de R$ 1,6 milhões de litros de combustível, gerando um custo adicional de R$ 336 mil.
É preciso pontuar também que agora em julho o setor, que já se encontrava em crise financeira, reajustou os salários dos motoristas e cobradores concedendo um aumento de 6% para a categoria. “Assumimos um ônus de mais de R$ 500 mil mensais com o reajuste salarial, mesmo sem termos tido o aumento de tarifa que precisávamos para cobrir todos os custos. Hoje, a tarefa mínima para nossa operacionalização deveria ser R$ 3,45”, explica o diretor de Relações Institucionais do SINTUR/JP, Isaac Júnior Moreira.
A situação do setor de transporte público está delicada em âmbito nacional. A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) no estudo “Situação econômico-financeira das empresas de transporte público urbano”, realizado entre 23 de março e 12 de maio deste ano, concluiu que 29,1% das empresas de ônibus do Brasil convivem com endividamento superior a 40% do faturamento anual e que 45,3% delas ingressaram em algum programa de recuperação fiscal a partir de 2014.
Na opinião de Marcos Bicalho dos Santos, diretor administrativo e institucional da NTU, tudo começou com as manifestações populares de junho de 2013, que tiveram como estopim o reajuste das passagens do transporte público urbano. A partir daí as prefeituras passaram a ser mais cautelosas na autorização dos reajustes das tarifas, inviabilizando o repasse integral dos custos das empresas, fato que desde 2014 vem desequilibrando o setor.
João Pessoa ilustra bem este exemplo. O último reajuste nas passagens de ônibus aprovado pela prefeitura, quando foi estabelecida uma tarifa de R$ 3,20, vigora desde 22/02/2017. O valor é inferior ao aprovado pelo Conselho Municipal de Mobilidade Urbana, que considera todos os custos do setor, como aumento no preço do combustível e gastos com a frota, por exemplo.
Outro levantamento da NTU indica que o setor já vinha convivendo com dificuldades há mais tempo, devido ao recuo da demanda, que teve queda de 42,5% entre 1994 e 2016 por conta do crescimento do transporte individual, principalmente de automóveis e motocicletas. Além disso, outro fator que contribui fortemente para a crise do setor é o crescimento do transporte clandestino de passageiros, que viola a Lei Complementar Municipal 44/2007, trazendo grandes prejuízos ao setor.
Em João Pessoa existem pelo menos 100 automóveis realizando transporte clandestino de passageiros. Em uma conta simples, se cada carro transporta quatro passageiros por vez e faz uma média de 12 viagens por dia, seis dias por semana, cobrando uma média de R$ 3,50 por passagem, ao final de um mês 28.800 passageiros terão sido transportados ilegalmente e o setor paralelo terá arrecadado R$ 403.200. “Além de ser uma concorrência muito desleal quando avaliamos os valores arrecadados, há também a questão da segurança do passageiro, que está à mercê de diversos perigos”, aponta Isaac Júnior Moreira, do SINTUR/JP.
De acordo com o executivo, a situação do setor em João Pessoa se agrava a cada dia. “É importante que a população saiba que as empresas de transporte coletivo de João Pessoa passam por uma crise intensa. É preciso que a população, o governo e todos que estão direta e indiretamente envolvidos se juntem para pensarmos em soluções e alternativas para sairmos dessa grave situação”, comenta o diretor de Relações Institucionais.