Transformar material que seria descartado em arte. Foi assim que ‘As Sereias da Penha’ conseguiram levar o nome de João Pessoa para o maior evento de moda do País, o São Paulo Fashion Week. As artesãs fazem das escamas e do couro do peixe, artigos de decoração, roupas, arranjos, colares, brincos e uma variedade da mais pura e nativa arte, que mulheres criadas à beira mar poderiam elaborar. A pandemia prejudicou o trabalho delas, que precisaram abrir mão da sua sede. Diante disso, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) está auxiliando a associação no cenário de retomada, com recursos para capacitações, linha de microcrédito e a promoção de um desfile da nova coleção.
Peixes nativos da região, como cioba, pescada, dentão, corvina, camurupim, bico-verde são utilizados na extração da matéria-prima. Após o processo de lavagem, feito pelas próprias artesãs, elas iniciam a retirada do couro e das escamas.
“Todos os dias a gente trabalha, seja no trato do peixe para extração de matéria, como na produção de novos artigos. A sede antiga era alugada e o dono, ainda antes da pandemia, já tinha vendido o ponto. Dois meses antes da pandemia chegar aqui, tivemos que entregar as chaves. Ficamos sem local pra trabalhar e sem poder nos reunir, por causa dos protocolos. Trabalhávamos isoladas, de casa, e num determinado momento, paramos por completo, porque a procura também diminuiu bastante no período”, explicou Joseana Izidro, presidente da Associação Sereias da Penha.
Agora elas retornaram às atividades, em nova sede, numa galeria localizada no Restaurante Muxima, na Praia da Penha. E isso só foi possível graças ao encanto da proprietária do espaço, pelo trabalho das ‘Sereias’. Admiração tão grande, que hoje ela aprendeu a arte e integra a Associação. “Sempre quis fazer parte, sonhava em aprender e participar das atividades, mas me retraía por ter um estabelecimento comercial. Imaginava que elas iriam me rejeitar, mas muito pelo contrário, fui acolhida demais. O trabalho manual é lindo e muito importante. O que as pessoas jogam fora, nós queremos e transformamos numa arte linda. Ainda sou uma piabinha, tô aprendendo, mas vou me transformar numa sereia”, explicou Aline Gouveia, integrante da associação.
A Sedurb abraçou as artesãs nessa retomada e, por meio de parceria com o Governo do Estado e o programa Empreender-PB, está viabilizando uma linha de microcrédito, que vai auxiliar na conclusão da reforma da galeria, além de dar suporte a compra de materiais para capacitações. “O trabalho dessas mulheres levou João Pessoa ao cenário nacional. O renomado estilista Ronaldo Fraga enxergou o talento delas e as levou para um grande evento de moda. Não poderíamos deixá-las sem suporte nesse momento difícil. Firmamos o compromisso de apoiá-las no que for preciso para fomentar ainda mais a atividade que desenvolvem”, explicou Fábio Carneiro, secretário da Sedurb.
Desfile – ‘As Sereias’ já foram incluídas na Feira Móvel do Produtor e estão na fase de conclusão da nova coleção que marca, além do novo momento que estão vivendo, a realização de um desfile “Beleza sem padrão”, onde as modelos serão mulheres da própria comunidade. O evento, que vai ser realizado pela Prefeitura, por meio da Sedurb, está previsto para acontecer no mês de outubro e, claro, seguindo todos os protocolos de saúde.
“Será um momento muito especial, onde além de dar visibilidade ao trabalho das artesãs, vamos valorizar as moradoras do bairro, que inspiram as obras das nossas ‘Sereias’. O apoio da imprensa nessa retomada é indispensável e é por meio dele que vamos conseguir mostrar o trabalho para toda a população, uma vez que pelos protocolos, o público será limitado. Em breve divulgaremos a data do evento”, destacou Jaciara Medeiros, assessora técnica da Sedurb e organizadora do evento.
