Ninguém gosta de transmitir uma má notícia, mas, em algumas ocasiões, é necessário. A comunicação de notícias ruins a pacientes e seus familiares em um ambiente hospitalar é ainda mais difícil. Por isso, deve ser feita de forma afetiva e assertiva. O tom de voz, a postura, a empatia com o paciente e a clareza nas informações são fundamentais nessa hora. É preciso que o profissional de saúde crie um ambiente de conforto emocional, mostrando interesse, compreensão e desejo de ajudar em todos os momentos do atendimento, não apenas no momento da má notícia.
A explicação é do médico intensivista Nolan Palma, especialista em cuidados paliativos do Hospital Alberto Urquiza Wanderley. Para ele, comunicar uma má notícia é apenas parte de um processo que começa bem antes. “Para chegar neste ponto, de ter uma comunicação afetiva e assertiva, o paciente e o familiar devem ser bem acolhidos. E isso tem que iniciar desde o primeiro contato deles com o hospital, mesmo que seja um paciente de pronto atendimento”, explicou. “É preciso ter acolhimento, comunicação efetiva e escuta qualificada e ativa”, afirmou.
Nolan Palma chamou a atenção para o fato de que, atualmente, o médico não é mais o centro da convivência com o paciente. “Não é só o médico que dá a má notícia”, pontuou. Esse processo, segundo ele, está descentralizado. “Toda a equipe deve estar apta. Por isso, tem que ter um planejamento multidisciplinar e um trabalho anterior”, esclareceu.
Perfil do paciente – Muita gente pode pensar que uma má notícia em um ambiente hospitalar seria apenas o óbito, mas ela envolve muito mais. Pode ser o diagnóstico de uma doença grave, uma doença crônico-degenerativa, uma falha terapêutica ou mesmo os efeitos colaterais de um tratamento. “O paciente tem o direito de saber o que está acontecendo com ele. Alguns familiares pensam que, escondendo informações, podem diminuir o sofrimento. Isso é o que chamamos conspiração do silêncio”, disse.
O médico explicou ainda que se o profissional de saúde falar o que tem que ser falado de maneira correta, poderá ajudar o paciente a ter uma melhor qualidade de vida. “Assim, nós conseguimos junto com o paciente, organizar o pensamento, deixando-o ciente do que vai acontecer, fazendo com que o planejamento e as melhores estratégias sejam seguidos também por ele, promovendo uma melhor qualidade de vida”, disse.
Não existe uma fórmula 100% correta para dar uma notícia ruim, conforme o especialista. Segundo ele, cada paciente tem suas particularidades e isso deve ser levado em consideração. “Temos que conhecer o paciente além da doença, o seu perfil, o que ele gosta, como ele se relaciona com as pessoas, sua família e o entendimento dele quanto ao adoecimento”, enfatizou.
Treinamento – A necessidade de aprimorar a habilidade em discutir más notícias com os pacientes e seus familiares deve ser uma prioridade na formação dos profissionais. Para alinhar as estratégias ao dar uma má notícia, o Hospital Alberto Urquiza Wanderley, unidade própria da Unimed João Pessoa, promoveu o treinamento “Comunicação de más notícias”, aberto a todas as equipes assistenciais. Segundo a direção da unidade, o objetivo foi deixar a equipe ainda mais treinada para um atendimento próximo, humanizado.