Esqueça essa coisa de morte do futebol...
Não se mata um gigante secular assim!
O futebol moderno está mesmo mecanizado, gourmetizado… pouca alma e muito business, perdeu espaço para outras diversões, mas ainda é e continuará sendo disparado, abissalmente a frente de todos os outros, o esporte mais universal!
Ele sempre nos surpreende! E teve mais um destes dias de gigantismo do esporte bretão, por vias tortas, é bem verdade.
A pandemia e a insistência de seguir com a bola rolando normalmente causou uma aberração: surtos de Covid em vários times, elencos em frangalhos…
Mas foi exatamente desse cenário de terra arrasada, que nasceu uma epopéia digna dos clássicos!
Com 20 atletas contaminados pelo Novo Coronavírus, o River Plate tinha apenas 11 jogadores inscritos e aptos a jogar pela Libertadores.
Nenhum goleiro! Coube ao volante Enzo Pérez ir para as traves. O grau de risco e dificuldade elevado pelo fato do voluntarioso jogador ainda estar em recuperação de uma lesão.
Enzo mais os dez guerreiros argentinos venceram o Santa Fé na Colômbia e classificaram os “Milionários” à próxima fase da maior competição sulamericana.
Enzo foi aguerrido como exige a alma futebolística portenha.
Eu disse alma, porque a pele já é marcada pelo símbolo do River tatuado em letras garrafais nas costas.
Envergando o manto de goleiro alvirubro pela primeira vez, Enzo se arriscou ao assumir a posição mais vulnerável do jogo, pura coragem ao encarar a missão.
Um arqueiro improvisado e dez homens na linha, sem um único reserva, sem o direito de sofrer qualquer lesão, ou fazer alguma substituição!
Venceram epicamente e já estão imortalizados no River Plate e entre as lendárias histórias do esporte.
Mas diferente do que parte da mídia quis fazer para pintar tons ainda maiores ao feito (como se isso fosse necessário), Enzo não precisou mostrar nenhum dote técnico!
Longe disso, Enzo, como um jogador de meio-campo demonstrou pouca, quase nenhuma intimidade sob as traves metálicas. Desengonçado, sem noção de espaço, sequer técnica de reposição de bola.
No único lance em que precisou “sujar o uniforme” se esparramou no chão para espalmar um chute fraco, quase do meio campo e que já estava indo para a linha de fundo, distante uns 2 metros do gol.
Se faltava intimidade sobrava entrega…
Esbanjava coragem em dividir com atacantes adversários as bolas alçadas na área.
Diante de tanta intrepidez, o árbitro, sensibilizado, parava o jogo, marcava falta no arqueiro herói.
Nem o juiz resistia ao tamanho daquele ato que, privilegiado assistia de perto, no campo.
Para participar a seu modo, contribuir para o roteiro ideal resolveu ressuscitar aquelas regras informais do futebol, o velho “perigo de gol”, ou o mito popular do goleiro intocável na pequena área. Enzo subia o apito soava. Falta clara nele!
Se não dá na técnica, vai na raça, na famosa mandinga argentina, o que for…
Os Deuses do Futebol ainda agem.